6 de outubro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Cidade Hospitalar de IA da China: uma revolução no atendimento médico

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Tsinghua deram um grande passo na evolução da saúde ao desenvolverem o “Hospital Agente”, um ambiente hospitalar inteiramente baseado em Inteligência Artificial (IA).

Por Juba Paixão

Nesse mundo virtual, os médicos, enfermeiros e até os pacientes são representados por agentes inteligentes, movidos por modelos de linguagem de grande escala (LLMs), como o GPT-3.5, capazes de interagir de forma eficaz e dinâmica com todos os participantes.

Um dos feitos mais impressionantes dessa nova tecnologia é a capacidade de tratamento em grande escala. Enquanto médicos humanos demorariam cerca de dois anos para atender 10.000 pacientes, os médicos virtuais de IA conseguem realizar essa tarefa em apenas alguns dias. Além disso, eles atingem uma precisão de 93,06% no conjunto de dados MedQA, utilizado para medir a competência em questões de licenciamento médico nos EUA, sendo altamente eficazes no diagnóstico de doenças respiratórias.

Os agentes médicos simulam todo o processo de atendimento ao paciente, desde a consulta inicial até o acompanhamento, passando por exames, diagnósticos e tratamentos.

Essa abordagem integrada permite uma interação médica completa, sem a necessidade de humanos, o que abre possibilidades inovadoras para o setor de saúde.

No “Hospital Agente”, o ambiente simulado é dividido em duas entidades principais: pacientes e profissionais médicos. Os profissionais são representados por 14 médicos e quatro enfermeiros, todos eles agentes de IA especializados. Enquanto os médicos de IA são responsáveis por diagnósticos e planos de tratamento detalhados, os enfermeiros de IA focam no suporte cotidiano aos pacientes.

As capacidades do ambiente são impressionantes, com a possibilidade de expansão infinita de suas funções graças à base tecnológica dos modelos de linguagem. A tecnologia permite que o hospital virtual funcione com várias salas de consulta e exames, simulando, com precisão, o ambiente de um hospital real.

Benefícios para o setor de saúde

De acordo com Liu Yang, líder da equipe de pesquisa e reitor executivo do Instituto de Pesquisa da Indústria de IA (AIR) da Universidade de Tsinghua, a cidade hospitalar de IA promete transformar radicalmente o diagnóstico e o tratamento de pacientes. Liu destaca que esse conceito inovador não apenas oferece uma nova perspectiva para os profissionais de saúde, mas também serve como uma poderosa ferramenta educacional.

Um dos maiores benefícios práticos é a oportunidade para estudantes de medicina. Eles poderão treinar com pacientes virtuais em um ambiente sem riscos, propondo diagnósticos e tratamentos sem o medo de erros fatais.

Com isso, os médicos em formação terão mais confiança e estarão melhor preparados para lidar com casos reais, sem comprometer a saúde de pacientes humanos durante o processo de aprendizado.

Além disso, com o potencial de oferecer serviços de telemedicina, a cidade hospitalar de IA pode fornecer atendimentos a pacientes reais, utilizando o vasto repositório de conhecimento médico. Isso abriria portas para que milhões de pessoas tivessem acesso a diagnósticos de qualidade, em larga escala, com o apoio da IA.

Previsão e controle de doenças

Outro ponto importante é a capacidade preditiva da cidade hospitalar de IA. Liu afirma que o ambiente virtual pode simular e prever cenários médicos complexos, como o desenvolvimento e o controle de doenças infecciosas em uma região. Essas simulações são ferramentas poderosas que podem ajudar governos e instituições de saúde a tomarem decisões mais informadas para conter surtos ou desenvolver políticas públicas mais eficazes.

Embora os avanços sejam promissores, Liu reconhece que ainda existem desafios. O principal deles é garantir a aderência às regulamentações médicas nacionais e validar a segurança das atualizações tecnológicas. A colaboração entre IA e humanos também precisa ser bem desenvolvida para que essa integração funcione de maneira eficiente e segura.

Apesar disso, o futuro está cada vez mais próximo. Segundo Liu, após aproximadamente seis meses de pesquisa e desenvolvimento, a cidade hospitalar de IA estará pronta para ser testada em aplicação prática. A previsão é de que o projeto esteja operacional já no segundo semestre de 2024.

IA e Humanos

Apesar de todos esses avanços promissores, uma coisa permanece clara: a IA nunca poderá substituir completamente os humanos na prática médica. Como bem ressaltou Dong Jiahong, acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia e reitor da Escola de Medicina Clínica da Universidade de Tsinghua.

A medicina é uma ciência do amor e uma arte do calor, enquanto o atendimento por IA permanece essencialmente frio e impessoal”, observa Dong.

Essa citação foi compartilhada pela plataforma Hopes and Dreams, especializada em tecnologias emergentes de IA.

A IA pode, de fato, superar os limites fisiológicos e intelectuais humanos em muitos aspectos, oferecendo precisão e eficiência inigualáveis no diagnóstico e tratamento. Entretanto, a singularidade de cada paciente, incluindo suas características psicológicas e sociais, faz com que a prática médica nunca seja totalmente previsível. Em casos de incerteza, será sempre necessário o toque humano, que traz a empatia e a flexibilidade para lidar com o inesperado.

Além disso, a responsabilidade legal nas decisões médicas continuará sendo dos profissionais humanos, e não das máquinas, o que reforça a necessidade de um sistema híbrido no qual IA e médicos trabalhem em colaboração.

Cidade Hospitalar de IA x Hospital de IA

É importante distinguir os conceitos de cidade hospitalar de IA e hospital de IA, que, embora relacionados, possuem significados diferentes. O hospital de IA refere-se a uma unidade hospitalar específica que utiliza IA em suas operações diárias para otimizar diagnósticos e tratamentos. Já a cidade hospitalar de IA abrange um ecossistema mais amplo, onde múltiplos hospitais e serviços de saúde interagem em um ambiente interconectado, completamente movido por IA. Assim, a cidade hospitalar de IA é uma rede maior de serviços médicos, enquanto o hospital de IA é uma unidade específica dentro dessa rede.

A diferença entre os dois conceitos ilustra o potencial expansivo da IA na saúde, onde não apenas um hospital pode ser otimizado, mas todo um sistema de atendimento pode ser automatizado e conectado para maximizar eficiência e acessibilidade.

Um futuro promissor, mas desafiador

A ideia de uma cidade hospitalar de IA nos faz vislumbrar um futuro em que hospitais automatizados podem salvar milhões de vidas, especialmente em regiões com déficit de profissionais médicos. Contudo, o caminho a ser percorrido até a implementação dessa tecnologia em larga escala envolve superar desafios éticos e regulamentares, garantir a segurança da interação entre IA e humanos e expandir as capacidades tecnológicas de forma a oferecer serviços de saúde de alta qualidade.

Como destacaram alguns internautas, “a simulação de IA explorará caminhos que os humanos fundamentalmente não têm tempo ou capacidade de explorar”. Este futuro, embora repleto de desafios, traz também uma grande esperança para a evolução da medicina global.

Em suma, a cidade hospitalar de IA está prestes a inaugurar uma nova era no atendimento médico. Com a sua aplicação, o conceito de saúde acessível e de alta qualidade torna-se mais próximo de ser uma realidade para todos.

Fontes:

Dong Jiahong, citado pela plataforma Hopes and Dreams

Liu Yang, em entrevista ao Global Times

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