A aprovação do chip cerebral da Neuralink pela Food and Drug Administration (FDA) é vista como um grande avanço, mas ainda está longe de ser uma cura definitiva para a cegueira.
Por Juba Paixão
A empresa de Elon Musk anunciou em 23 de setembro de 2024 que o dispositivo foi aprovado como um “dispositivo inovador”, uma designação que facilita o processo de avaliação e desenvolvimento. No entanto, muitos desafios permanecem para que essa tecnologia seja aplicada de maneira eficaz e segura.
Em entrevista concedida à sua rede social X (antiga Twitter), Elon Musk comentou que o chip cerebral da Neuralink tem o potencial de restaurar a visão até mesmo para pessoas que perderam os olhos ou o nervo óptico.
Enquanto o córtex visual estiver intacto, permitirá que mesmo aqueles que são cegos de nascença vejam pela primeira vez”, afirmou Musk.
Ele destacou a promessa revolucionária do dispositivo que, em uma fase inicial, a visão proporcionada pelo chip seria de baixa resolução, semelhante aos gráficos antigos de jogos de videogame, como os do Atari.
Musk ainda comparou o dispositivo à tecnologia ficcional usada pelo personagem Geordi La Forge, da série Star Trek, que utilizava um visor especial chamado VISOR para enxergar muito melhor do que a média humana.
Com o tempo, o dispositivo tem o potencial de proporcionar uma visão superior à natural, permitindo ver comprimentos de onda invisíveis ao olho humano, como infravermelho e ultravioleta”, explicou Musk.
A designação de “dispositivo inovador” concedida pela FDA é um reconhecimento de que o projeto tem potencial disruptivo, mas ainda precisa de muitos testes. Segundo o TechCrunch, em 2023, havia 145 dispositivos médicos com essa designação. Desde 2015, mais de mil produtos receberam esse status. O programa voluntário visa acelerar o desenvolvimento de tecnologias médicas transformadoras, proporcionando maior apoio regulatório durante o processo de aprovação, mas sem garantir o sucesso imediato.
Como funciona o chip cerebral
O chip da Neuralink, conhecido como Blindsight, opera a partir de microeletrodos embutidos no córtex visual, que estimulam os neurônios para recriar padrões visuais.
Esse processo é gerado a partir de uma câmera externa, que simula as funções do nervo óptico ou da retina em pessoas que perderam essas capacidades.
A neuroftalmologia no mundo
Embora a Neuralink esteja atraindo atenção mundial, ela não é a única empresa que busca restaurar a visão por meio de interfaces cérebro-computador. Outros esforços ao redor do mundo incluem:
Second Sight Medical Products: criadora do sistema de prótese retinal Argus II, que oferece percepção visual limitada a pessoas com retinite pigmentosa;
Universidade de Melbourne, Austrália: sob a liderança de Arthur Lowery, está desenvolvendo uma prótese cortical para devolver a visão ao estimular o córtex visual diretamente;
CortiCare, Inc.: uma das líderes na utilização de interfaces cérebro-computador para o tratamento de condições neurológicas, incluindo o desenvolvimento de próteses visuais.
Esses projetos, junto com o da Neuralink, reforçam o potencial de revolução na área de neuroftalmologia, embora ainda existam muitos desafios a serem superados antes que soluções viáveis sejam amplamente aplicadas.
O futuro
O desenvolvimento de implantes cerebrais capazes de restaurar a visão oferece um futuro promissor, mas também traz desafios médicos, tecnológicos e éticos. Com a aprovação inicial da FDA, a Neuralink deu um passo importante, mas o caminho até uma solução prática e acessível é longo. A comparação com Geordi La Forge inspira, mas a realidade ainda exige muita cautela, testes clínicos rigorosos e aprimoramentos.
Fontes:
TechCrunch: “FDA Grants Breakthrough Designation for Neuralink’s Visual Prosthesis” (2024)
FDA: Programa de Dispositivos Inovadores
Second Sight Medical Products: “Advances in Retinal Prosthesis”
Universidade de Melbourne: Pesquisa em próteses corticais visuais
CortiCare, Inc.: “Neural Interface Solutions for Visual Impairments”