Os avanços tecnológicos têm revolucionado o campo de batalha no Oriente Médio, introduzindo drones, inteligência artificial e robôs que transformam a dinâmica da guerra.
Por Juba Paixão
Um exemplo marcante é o uso de drones por grupos como o Hamas em ataques a Israel, que, por sua vez, utiliza sistemas de defesa de última geração, como o “Domo de Ferro”.
Esse sistema intercepta e destrói mísseis e drones no ar, minimizando os danos e as baixas civis.
Em outubro de 2023, durante um ataque maciço de foguetes e drones disparados contra Israel, o “Domo de Ferro” conseguiu interceptar a maioria dos projéteis, destacando como as novas tecnologias são agora parte essencial das estratégias de guerra.
Nos últimos anos, esses conflitos remontam a divisões históricas, políticas e religiosas que começaram há séculos. O extremismo, cujas raízes podem ser traçadas até nas passagens da Bíblia e do Alcorão, se intensificou na era contemporânea, especialmente com a ascensão de líderes teocráticos, como o Aiatolá Khomeini no Irã, que encabeçou a Revolução Islâmica de 1979.
Esse evento foi fundamental para o crescimento do extremismo religioso no mundo muçulmano, influenciando movimentos radicais e grupos insurgentes em várias regiões do Oriente Médio e além.
O início
A narrativa bíblica das tribos descendentes de Abraão — Ismael e Isaac — frequentemente é usada simbolicamente para explicar a rivalidade entre árabes e israelenses.
No Livro de Gênesis, capítulos 16, 17, 21 e 25, é uma narrativa central no contexto das três grandes religiões abraâmicas — o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo — e tem implicações significativas nas tradições e identidades culturais desses povos.
Em Gênesis 16:11-12: “Um anjo do Senhor anuncia a Hagar que seu filho se chamará Ismael e que ele será um homem forte e indomável, cujos descendentes viverão em conflito com outros povos.”
O Alcorão aborda uma visão espiritual e ética sobre guerra, justiça e paz, oferecendo diretrizes específicas para o comportamento em tempos de conflito. Ele permite a autodefesa e a luta contra a opressão, mas impõe limites claros e orienta os fiéis a buscar a paz sempre que possível.
Em Surata 2:190, um dos versos mais citados a esse respeito é: “Lutem no caminho de Deus contra aqueles que lutam contra vocês, mas não transgridam, pois Deus não ama os transgressores.”
No entanto, os fatores geopolíticos modernos, como disputas por recursos e influência, desempenham um papel crucial nos conflitos atuais. Essa divisão, reinterpretada ao longo dos séculos, se reflete nas tensões contemporâneas e nas rivalidades entre países do Oriente Médio.
A ascensão de Khomeíni e o novo capítulo do extremismo
Eric Hobsbawm, em seu livro A Era dos Extremos, destaca a ascensão do Aiatolá Khomeíni como um marco decisivo para o extremismo religioso no Oriente Médio.
Segundo Hobsbawm, a Revolução Islâmica de 1979 no Irã marcou o fim de uma modernização secular no país, substituída por uma teocracia que desafiava diretamente as influências ocidentais.
O governo do xá iraniano havia fracassado em conciliar modernidade com as tradições islâmicas, criando um vácuo preenchido por Khomeíni, que defendia um retorno aos valores islâmicos como alternativa ao materialismo e ao imperialismo ocidental.
Essa revolução serviu de catalisador para movimentos xiitas na região, inflamando o sectarismo que continua a alimentar os conflitos contemporâneos, como a guerra civil na Síria e a guerra no Iémen.
A ascensão de Khomeíni também trouxe mudanças importantes na geopolítica global, uma vez que o Irã se tornou um polo de resistência contra os Estados Unidos e seus aliados no Oriente Médio.
Os conflitos no Oriente Médio nos últimos 40 anos foram moldados por rivalidades sectárias, extremismo religioso e disputas geopolíticas. Entre eles estão:
Guerra Irã-Iraque (1980-1988): um dos conflitos mais sangrentos da história moderna, alimentado pelo medo iraquiano de que a revolução xiita no Irã se espalhasse;
Guerra do Golfo (1990-1991): a invasão do Kuwait pelo Iraque levou à intervenção militar de uma coalizão liderada pelos EUA, consolidando a presença militar ocidental na região;
Invasão do Iraque (2003): a queda de Saddam Hussein resultou em uma guerra civil sectária e no surgimento de grupos terroristas como o Estado Islâmico (ISIS);
Primavera Árabe (2011-presente): movimentos revolucionários por democracia levaram a guerras civis, como na Síria, onde as potências globais exercem influência;
Invasão do Hamas em Israel (2023): em 7 de outubro de 2023, o Hamas, organização islâmica palestina, lançou um ataque surpresa contra Israel, desencadeando uma nova onda de violência. A ofensiva incluiu ataques com foguetes e infiltrações terrestres, levando Israel a retaliar massivamente, resultando em um conflito devastador para ambas as partes;
Conflito com o Irã: um dos principais apoiadores do Hamas e do Hezbollah, tem desempenhado um papel fundamental nas tensões entre Israel e os grupos militantes na Palestina e no Líbano. O apoio financeiro e militar de Teerã ao Hamas aumentou as tensões na região, especialmente após os recentes ataques do Hamas a Israel.
O crescimento do Islã e a geopolítica contemporânea
O Islã é hoje a religião que mais cresce no mundo, impulsionado por fatores demográficos como a alta taxa de natalidade em países muçulmanos e a prática da poligamia em algumas regiões. Essa expansão do Islã, especialmente na Europa, tem gerado repercussões socioculturais e políticas significativas.
A migração em massa de muçulmanos para o continente europeu, particularmente desde o início das guerras no Oriente Médio e na África, transformou o cenário demográfico europeu e levantou questões sobre integração, radicalismo e a manutenção dos valores ocidentais.
O Pew Research Center estima que a população muçulmana na Europa pode aumentar significativamente nas próximas décadas, chegando a representar entre 7,4% e 14% da população total até 2050, dependendo dos níveis de imigração.
Esse crescimento gera desafios tanto para as políticas de integração quanto para a segurança, especialmente em países como França, Alemanha e Reino Unido, onde ataques terroristas perpetrados por extremistas islâmicos trouxeram o debate sobre imigração e segurança para o centro das discussões políticas.
Em 2020, um relatório da European Union Agency for Fundamental Rights destacou que, embora a maioria dos muçulmanos na Europa esteja bem integrada, existe uma minoria que se radicalizou, alimentada por ideologias jihadistas e por experiências de marginalização e discriminação.
Essa radicalização tem sido responsável por vários ataques terroristas, como os que ocorreram no World Trade Center, na cidade de Nova York, em 2001, em Paris em 2015, em Londres em 2017, entre outros que seguem acontecendo pelo mundo.
Previsões sobre o risco de uma Terceira Guerra Mundial
O risco de uma Terceira Guerra Mundial é amplamente discutido por analistas de segurança global. Embora os especialistas considerem esse cenário improvável no curto prazo, os conflitos no Oriente Médio, combinados com as tensões entre potências nucleares como Estados Unidos, China e Rússia, alimentam especulações. A complexidade dos conflitos contemporâneos, onde atores não estatais como o ISIS e o Hezbollah têm protagonismo, torna a geopolítica cada vez mais imprevisível.
Um fator crucial para a escalada de um conflito global seria a disseminação de armas nucleares no Oriente Médio.
A rivalidade entre Irã e Israel, por exemplo, é vista como um potencial ponto de ignição, especialmente se o Irã continuar a desenvolver seu programa nuclear, algo que Israel vê como uma ameaça existencial.
O historiador Niall Ferguson, em uma entrevista à BBC, apontou que o risco de uma nova guerra mundial não deve ser subestimado. Ele acredita que uma combinação de fatores, incluindo o crescimento do nacionalismo e do populismo, o enfraquecimento das instituições internacionais e a proliferação de novas tecnologias militares, poderia criar um ambiente propício para um conflito global.
Ferguson também observa que a Guerra Fria foi evitada por uma série de mecanismos diplomáticos e alianças, que hoje estão em crise, aumentando a imprevisibilidade das relações internacionais.
A região do Oriente Médio segue como um epicentro de conflitos influenciados tanto por questões religiosas quanto geopolíticas. Ao mesmo tempo, a migração islâmica para a Europa apresenta novos desafios políticos e sociais, com implicações globais significativas.
Segundo o Ministério da Saúde da Alemanha, a sepse na Europa mata mais do que derrames e ataques cardíacos juntos, e esses números demonstram como as guerras prolongadas afetam gravemente as condições de vida e saúde.
Embora os especialistas não prevejam uma Terceira Guerra Mundial no curto prazo, os riscos estão presentes, e as tensões entre civilizações, como a ocidental e a islâmica, continuam a moldar o futuro das relações internacionais.
Fontes:
Hobsbawm, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
BBC News. Entrevista com Niall Ferguson. 2020.
Pew Research Center. The Future of World Religions. 2015.
European Union Agency for Fundamental Rights. Muslim experiences of discrimination in Europe. 2020.
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Por Juba Paixão – Jornalista, publicitário e empresário de comunicação institucional – detentor da Cruz do Mérito da Comunicação, categoria Comendador, pela Câmara Brasileira de Cultura.