27 de novembro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Deus in Machina: a inovação da IA e a revolução da fé digital

A Capela de São Pedro, em Lucerna, Suíça, deu um passo inovador ao substituir o confessionário tradicional por um avatar de Jesus Cristo alimentado por inteligência artificial (IA). 

Por Juba Paixão

Essa experiência, intitulada Deus in Machina, foi desenvolvida em colaboração com um laboratório universitário especializado em tecnologias imersivas, como realidade aumentada e virtual. A iniciativa trouxe novas perspectivas sobre o uso da tecnologia para abordar questões espirituais e inter-religiosas.

Em entrevista ao The Guardian, o teólogo Marco Schmid explicou que o objetivo era entender como as pessoas reagiriam à interação com um Jesus digital. 

Fotografia: Peter Diem/Lukasgesellschaft

Queríamos ver sobre o que as pessoas conversariam com ele e avaliar o interesse em dialogar com um avatar de Cristo. Provavelmente somos pioneiros nisso”, afirmou Schmid.

Orientações para garantir a segurança

Antes de interagir com o avatar, os participantes foram orientados a não revelar informações pessoais, garantindo a privacidade e a segurança dos dados fornecidos. Essa precaução reforça a natureza experimental do projeto e evita interpretações erradas sobre o uso da IA como uma confissão tradicional.

O Jesus digital foi projetado para dialogar em mais de 100 idiomas e treinado com textos teológicos, oferecendo respostas geradas em tempo real.

Durante dois meses, mais de mil pessoas, incluindo turistas de diferentes religiões interagiram com o avatar. Cerca de dois terços dos participantes relataram ter tido uma “experiência espiritual positiva”.

Por outro lado, houve críticas sobre a superficialidade de algumas respostas. Um repórter descreveu as interações como “banais e clichês”, enquanto outros participantes apontaram momentos inspiradores e emocionalmente significativos.

O mercado da fé e as críticas

A experimentação com IA no campo da espiritualidade ocorre em um contexto de debates sobre o chamado mercado da fé, que expõe tanto as virtudes quanto as imperfeições das instituições religiosas. Práticas como a exploração de fiéis por meio de doações e o enriquecimento de líderes religiosos geram controvérsias e intensificam conflitos inter-religiosos. 

Nesse sentido, o Jesus digital se destaca por sua neutralidade. Alimentado por textos sagrados, ele não carrega interesses financeiros nem dogmas humanos, oferecendo respostas baseadas exclusivamente nos ensinamentos dos livros sagrados.

No entanto, o uso da tecnologia também levanta questões éticas, especialmente sobre a responsabilidade de garantir que as respostas não sejam conflitantes com os valores das religiões ou suscitem interpretações errôneas.

É importante lembrar que as instituições religiosas desempenham um papel essencial em áreas como assistência humanitária, educação e ações sociais. Esses esforços frequentemente dependem de doações para o custeio de suas atividades e para viabilizar seu trabalho no terceiro setor, promovendo impacto positivo na sociedade.

Um futuro de conexões espirituais

Embora Schmid tenha descartado a possibilidade de implementar o avatar como uma solução permanente devido à grande responsabilidade, ele enxerga um futuro promissor para a ideia. 

É uma ferramenta realmente acessível para falar sobre religião, cristianismo e fé. Pode ser remodelada como um guia espiritual multilíngue, respondendo a questões religiosas com profundidade”, observa.

Para ele o experimento revelou que as pessoas estavam buscando ir além da Bíblia, dos sacramentos e dos rituais.

Acho que há uma sede de falar com Jesus. As pessoas querem ter uma resposta: elas querem palavras e ouvir o que ele está dizendo. Acho que esse é um elemento disso. Então, é claro, há a curiosidade disso. Elas querem ver o que é isso”, finaliza.

A iniciativa de Lucerna destaca o desejo humano de transcender os rituais tradicionais e buscar novas formas de diálogo espiritual. Com a evolução contínua da tecnologia, projetos como esse podem se tornar pontes para a união de crenças e um meio de aproximar o sagrado do cotidiano.

Fontes:

Entrevista com Marco Schmid ao The Guardian.

Discussões sobre tecnologia e espiritualidade em análises internacionais.

Previous Article

Redes Sociais: inovação disruptiva e o futuro da comunicação

Next Article

Bolhas Sonoras: IA revoluciona experiência auditiva com fones de ouvido

You might be interested in …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *