Uma solução inovadora e cientificamente validada pode estar prestes a transformar o tratamento de queimaduras no Brasil e no mundo.
Por Juba Paixão
O uso da pele de tilápia como curativo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), vem se consolidando como uma alternativa eficaz e economicamente viável para a medicina regenerativa.
A iniciativa, que teve início em 2015, demonstra avanços significativos na redução da dor dos pacientes, no menor número de trocas de curativos, na prevenção de infecções e na diminuição do tempo de internação hospitalar.
Além disso, o biomaterial tem sido aplicado em diversas áreas da saúde, incluindo o tratamento de úlcera de pele, cirurgias de reconstrução vaginal e redesignação sexual, bem como na veterinária.
Expansão e Licenciamento
Para ampliar o acesso a essa tecnologia, a Coordenadoria de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (CPITT) da UFC lançou um edital público para licenciamento da pele de tilápia liofilizada, voltado para empresas interessadas na produção e comercialização do curativo. O Edital nº 01/2025 prevê a concessão de uma licença exclusiva para o uso e desenvolvimento da patente “Processo de obtenção de curativo biológico oclusivo, uso do mesmo e kit” (BR 102019023961), registrada junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Empresas interessadas podem submeter suas propostas até 14 de fevereiro de 2025 por meio do e-mail ufcinovaparcerias@ufc.br. Todas as informações detalhadas estão disponíveis no edital oficial.
Histórico e avanços da pesquisa
O projeto teve início no Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, sob coordenação do professor Manoel Odorico de Moraes Filho. Um dos pioneiros no estudo, o médico Edmar Maciel Lima Júnior, do Instituto Dr. José Frota, identificou o alto teor de colágeno tipo I na pele da tilápia, uma proteína essencial para a cicatrização e regeneração da pele.
Desde então, a pesquisa evoluiu e conta atualmente com 337 cientistas de nove países, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Holanda, distribuídos em mais de 100 projetos de investigação. O trabalho colaborativo gerou até o momento 41 publicações científicas e conquistou 25 prêmios internacionais, incluindo o Prêmio Eurofarma de Inovação.
Entre os avanços derivados da pesquisa, destacam-se também outras aplicações da pele de tilápia, como matriz acelular e colágeno purificado, ambos patenteados no Brasil e no exterior. O estudo tem atraído atenção internacional e até mesmo foi referenciado em séries como Grey’s Anatomy e The Good Doctor.
Oportunidade e impacto social
A pele de tilápia surge como uma alternativa economicamente viável, já que, apesar de ser um dos peixes mais consumidos no Brasil, sua pele é tradicionalmente descartada. Além disso, materiais de origem aquática apresentam menor risco de transmissão de doenças em comparação a fontes terrestres, tornando o uso clínico mais seguro.
A UFC já aplicou essa tecnologia em missões humanitárias, beneficiando vítimas de incêndios na Califórnia e no Pantanal, além de auxiliar populações afetadas por enchentes no Rio Grande do Sul. Com a abertura do edital de licenciamento, a expectativa é que, em breve, o curativo inovador esteja acessível nas farmácias e hospitais do Brasil, ampliando o impacto da ciência na saúde pública.
Fontes
Universidade Federal do Ceará (UFC)
Instituto Dr. José Frota
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
Fiocruz
Instituto Butantan
NASA