2 de abril de 2025
Vitória, ES, Brasil

O legado de Luciano Raizer: tecnologia, inovação e a indústria 4.0 no Espírito Santo

Luciano Raizer, Professor Titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), conta a sua trajetória como um dos atores responsáveis pelo desenvolvimento do ecossistema de tecnologia e inovação do estado.

Por Juba Paixão

O título é concedido a professores que demonstram excelência em suas áreas por meio de pesquisa, ensino e contribuições significativas para a comunidade acadêmica. O jornal onPost foi conferir essa trajetória.

Para alcançar essa posição, é necessário possuir doutorado, vasta produção científica, experiência docente e participação ativa em projetos de pesquisa. Além disso, o professor titular frequentemente assume papéis de liderança, como coordenação de cursos, chefia de departamentos e orientação de alunos de pós-graduação.

A presença de professores titulares é considerada um indicador de excelência nas universidades e programas de pós-graduação.

Estou muito feliz por ter alcançado o nível máximo de uma carreira acadêmica, que é ser professor titular. É fruto de uma dedicação de mais de três décadas como professor, empresário, pesquisador e cientista, sempre dedicado ao tema ciência, tecnologia e inovação. Claro que contei com o apoio da família durante toda essa trajetória. Não adianta simplesmente dar aula; o professor tem que pesquisar, publicar, desenvolver temas, tecnologias. Minha carreira sempre foi pautada nessa dinâmica, especialmente no desenvolvimento de projetos técnicos voltados para a indústria. Dou aula desde os 25 anos de idade, dividindo a vida acadêmica com a de empresário do setor de tecnologia da informação”, relata Luciano.

Raizer destaca que se afastou da vida empresarial para dedicar-se ao desenvolvimento de soluções aplicadas à engenharia para resolver os desafios do mercado.

Um dos mentores das ações estratégicas da Act!on, Luciano Raizer sempre buscou a aproximação entre a academia, a indústria e o mercado.

Para ele, levar as necessidades da indústria e do mercado para a academia e para os atores promotores da inovação é o caminho para o desenvolvimento.

Historicamente, são dois mundos distantes, pois a academia se concentra no desenvolvimento da ciência, observando os fenômenos naturais para estabelecer conceitos e métodos. Já a tecnologia é a aplicação de todo esse conhecimento no mercado e no desenvolvimento de produtos e processos. Meu perfil está mais ligado à aplicação desses conhecimentos na solução dos desafios da indústria, que precisa de respostas rápidas para aprimorar processos, produtos e equipes. Esses dois mundos, que podem parecer antagônicos, na verdade, são complementares. Sem conhecimento, a indústria não se desenvolve; sem tecnologia, não será produtiva. E gerar conhecimento e tecnologia só faz sentido se houver aplicação prática. Foi exatamente nisso que foquei meus esforços: aproximar o meio acadêmico do setor produtivo”, explica.

Atuação na Findes e inovação no Espírito Santo

Luciano Raizer destaca sua trajetória na Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), onde atuou como engenheiro, executivo, diretor, membro de conselho e, por fim, vice-presidente. Um dos projetos mais relevantes em que esteve envolvido foi o Inovação na Indústria Capixaba (Inovic), precursor do Movimento Capixaba pela Inovação (MCI), do Estudo Senai de Tecnologia e do Findeslab, hoje o maior hub de inovação do Espírito Santo e o terceiro melhor do Brasil.

Em um de seus livros, Prodfor 15 anos – Uma História de Qualidade, Raizer relata como o programa Prodfor, criado por ele, ajudou centenas de empresas capixabas a aprimorarem sua gestão da qualidade, qualificando-as para vender mais e melhor para grandes empresas locais. O projeto é considerado um marco transformador no Espírito Santo.

Indústria 4.0

Fruto do pós-doutorado no Instituto Fraunhofer da Alemanha, outro grande projeto, desenvolvido com a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), levou inovação, modernização e maior produtividade à indústria capixaba. O trabalho executado gerou mais um livro: “A Caminho da Indústria 4.0”.

Assim como o resto do mundo, a Indústria 4.0 encontra-se receosa, requer investimento, mudança de estratégia e mudança de cultura. É um caminho escalonado, pois não é fácil promover de uma só vez. Precisamos criar uma cultura empresarial que demonstre a necessidade de investimento em tecnologia e modernização, mesmo sabendo que existe muito risco associado. Outro passo delicado é formar pessoas competentes no uso da tecnologia para atender as indústrias, isso é um grande desafio. Por fim, é usar a tecnologia: robôs, inteligência artificial. Isso já existe, mas precisa ser configurado e adaptado a cada realidade”, observa.

Luciano faz uma classificação das indústrias capixabas. Para ele, em uma escala de 1 a 5, onde 1 é a indústria totalmente tradicional e 5 a 4.0, as indústrias do estado estão no nível 2. Ainda não alcançaram o nível 3 para serem consideradas Indústrias 4.0.

De maneira geral, as empresas têm parte da sua atividade em um processo que tem tecnologia, mas não conseguem ter um conceito de Indústria 4.0 como um todo. Um conceito que envolve toda uma verticalização interna do sistema de gestão até a operação das máquinas, mas precisa se relacionar de maneira autônoma e digital com os fornecedores e clientes, o que chamamos de integração horizontal. Sem essa dinâmica, não teremos Indústria 4.0”, conceitua Raizer.

Como empresário, Luciano, agora CEO da Raizer Moura Consultoria, assina importantes produtos para o mercado capixaba. Além do Prodfor, parte dos três grandes projetos desenvolvidos, a Raizer Moura Consultoria desenvolveu o Qualiases, para a Associação de Empresários da Serra (Ases), com o objetivo de apoiar a modernização das empresas associadas à Ases e emitir certificados para aquelas que atendessem aos requisitos definidos. Já o Prodvar teve como público-alvo as empresas de varejo associadas à Câmara dos Dirigentes Lojistas de Vitória (CDL).

Tecnologia da Informação – TI

Da experiência com a atuação em centenas de empresas atendidas, nasceu a Raizer Moura Tecnologia. O carro-chefe foi o software ISO é Fácil, dedicado a organizar e automatizar o sistema de gestão da qualidade de empresas. A empresa desenvolveu outros softwares, como o Isoweb, Service e Gestor de Obras, sendo uma das pioneiras no estado no desenvolvimento e licenciamento de software como produto.

A aproximação com o setor empresarial de tecnologia surgiu de uma divergência com o contador, que tinha que optar por uma representatividade sindical, quando, à época, era obrigatório.

Meu contador tinha sugerido a filiação à Federação do Comércio, mas no meu entendimento, a Raizer Moura era uma empresa de tecnologia e o ambiente mais adequado era a indústria do conhecimento, a indústria de transformação, de dados da informação, a indústria da Tecnologia da Informação ligada à Findes. Era uma organização simples, focada nas negociações trabalhistas. Atuei como diretor, vice-presidente até ascender como presidente do então Sindicato das Empresas Industriais de Informática, de Hardware e Software, Robótica, Manutenção e Desenvolvimento, e Atividades Correlatas, Similares ou Conexas, no Âmbito do Estado do Espírito Santo (Sindinfo).”

Luciano relata, também, sua participação na transformação do Sindinfo para Act!on. Um dos mais ousados movimentos em prol do desenvolvimento das empresas de tecnologia do estado. Com ações estratégicas, cursos, eventos, missões empresariais nacionais e internacionais, a Act!on é hoje um dos principais agentes promotores do ecossistema de inovação do estado.

O que levamos com a proposta da Act!on era maior que uma relação sindical. Nos transformamos em uma agência de desenvolvimento do segmento. Procuramos enxergar o que as empresas de tecnologia precisavam. Observamos, através de pesquisas, as necessidades e as dores do setor. A consolidação da Act!on como um dos principais atores do desenvolvimento da tecnologia do estado foi fundamental para impulsionar o tema inovação. Com o alto poder de conexão, levamos o tema para a Findes, que teve um papel fundamental para o desenvolvimento do programa Inovic. A Act!on foi determinante para que o Espírito Santo se desenvolvesse na área da inovação”, pontua.

Programas de capacitação para atender às demandas do mercado de TI são referência, como o Programe-se e Reprograme-se, desenvolvido em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), e o Jovem Programadora, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Espírito Santo (Senac-ES), tornando a Act!on a instituição de maior atuação no desenvolvimento do setor de tecnologia capixaba.

Findes

No Conselho da Findes, Raizer passou a integrar a diretoria da instituição como diretor para assuntos do Instituto de Desenvolvimento do Espírito Santo (Ideies). Na gestão seguinte, passou a diretor administrativo, sendo responsável pela implementação da gestão estratégica na Findes, um dos maiores parceiros da Act!on. Logo após, foi vice-presidente de Inovação e Tecnologia, sendo responsável pela elaboração do Inovic – Programa de Inovação na Indústria Capixaba.

A Mobilização Capixaba para a Inovação, proposta por Luciano, promove a integração de instituições e empresas para a promoção da inovação no estado.

“Por meio da sua diretoria de 2017 a 2020, a Findes desempenhou um papel de liderança para promover o tema tecnologia e inovação. A conexão Act!on e Findes reuniu os atores, entre eles o Governo do Estado, para a criação do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia, o Funcitec/MCI, que gera cerca de R$ 50 milhões por ano dedicados à inovação e tecnologia. Os empresários já sabiam como inovar, com quem contar para esse processo, como buscar os recursos, mas precisavam de um lugar que oferecesse essa gama de ações. Foi então que fundamos o FindesLab em 2019”, destacou.

Raizer complementa que o FindesLab trouxe dois conceitos inovadores para o estado: o de hub, um ambiente capaz de conectar, buscar onde está a dor de uma determinada empresa e encontrar onde está a solução, seja na academia, nos fornecedores ou startups; e o segundo instrumento, o de inovação aberta, onde as grandes empresas puderam lançar os seus desafios para que as startups pudessem apresentar as soluções.

Para se ter uma ideia, o FindesLab, nos últimos cinco anos, desenvolveu mais de 150 projetos, com um investimento de mais de R$ 40 milhões. Uma conexão que conseguiu recursos que não existiam, um local que também não existia e desenvolveu projetos inéditos. Isso é muito inovador”, finaliza Luciano Raizer.

Hoje, Luciano trilha mais um desafio com o objetivo de impulsionar as empresas de tecnologia e a inovação do estado: a Cidade da Inovação, projeto em construção junto com o Ifes, que leva a assinatura de Luciano Raizer, Professor Titular da Ufes e diretor da Act!on.

Fontes:

Comunicação Institucional da Act!on

Entrevista com o Professor Titular da Ufes Luciano Raizer Moura

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