2 de abril de 2025
Vitória, ES, Brasil

Empresas Capixabas na Vanguarda da Sustentabilidade: pesquisa revela avanço na descarbonização e eficiência energética

Inédito no estado, o estudo aponta que 70% das empresas estão comprometidas com investimentos em sustentabilidade. Um posicionamento de destaque se comparado a países que investem no mercado de CO₂.

Por Juba Paixão

A descarbonização e a eficiência energética já fazem parte do planejamento estratégico das empresas do Espírito Santo. Dados da Pesquisa Descarbonização e Eficiência Energética 2025 revelam que sete em cada dez empresas capixabas pretendem ou estão avaliando investir em iniciativas sustentáveis. Do total, 56% afirmam que vão investir nos próximos 18 meses, enquanto 16% estão analisando essa possibilidade.

A análise foi realizada por meio de uma parceria entre o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e o Observatório Findes, foi divulgada na última segunda-feira (17) durante uma coletiva de imprensa na sede da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em Vitória.

Indústria capixaba liderando a “Agenda Verde”

O presidente da Findes, Paulo Baraona, destacou a relevância do levantamento para o setor produtivo.

A pesquisa confirma o comprometimento crescente da indústria capixaba com soluções sustentáveis. Esse levantamento é essencial para impulsionar a transição energética e ampliar a diversificação da matriz energética no estado”, destacou Baraona.

A descarbonização é uma tendência global irreversível, e o Bandes tem um papel estratégico na viabilização desse movimento. O diretor-presidente do banco, Marcelo Saintive, enfatizou a responsabilidade da instituição em garantir que as diretrizes sustentáveis se transformem em investimentos concretos.

Nosso papel é assegurar que as empresas capixabas tenham condições financeiras para avançar nessa agenda. O desenvolvimento sustentável exige planejamento e acesso a recursos, e o Bandes está pronto para impulsionar esse processo”, enfatiza Saintive.

Destaques da pesquisa

  • 200 empresas participantes, distribuídas em 33 municípios do ES;
  • 59% pertencem à indústria de transformação e 14% atuam na construção civil;
  • 49% são empresas de médio porte e 34% de pequeno porte;
  • 88% priorizam a eficiência energética em seus projetos;
  • 82% destacam o compromisso ambiental como principal motivação para investir na descarbonização;
  • 54% já adotaram medidas de eficiência energética;
  • 51% implementaram gestão de resíduos e economia circular;
  • 16% ainda avaliam se investirão na descarbonização nos próximos meses.

A economista-chefe da Findes e gerente do Observatório Findes, Marília Silva, destacou a maturidade crescente das empresas capixabas no tema.

Os resultados mostram que as indústrias locais estão cada vez mais atentas à transição para uma economia de baixo carbono. O levantamento nos permite compreender melhor as estratégias empresariais e direcionar iniciativas para fomentar esse processo.”

Sequestro de Carbono: complemento ou obstáculo à descarbonização?

A importância da tendência de descarbonização do estado ganha mais importância quando comparada ao comportamento de vários países do mundo. Além das ações diretas de redução de emissões, a percepção de alguns especialistas levanta preocupações sobre o sequestro de carbono, prática em que países e empresas poluentes compram créditos para compensar suas emissões ao investir em iniciativas ambientais em outras nações, como o Brasil.

Essa modalidade, presente até na bolsa de valores, pode representar uma oportunidade financeira para projetos sustentáveis, mas também levanta questionamentos sobre seu impacto na real redução de emissões globais.

Atualmente, os maiores emissores de CO₂ no mundo são:

  • China – Cerca de 30% das emissões globais;
  • Estados Unidos – Aproximadamente 14%;
  • Índia – Cerca de 7%;
  • União Europeia – Responsável por 7%;
  • Rússia – Cerca de 5%.

O Brasil, por outro lado, se destaca como um dos principais receptores de investimentos em créditos de carbono, devido à sua vasta cobertura florestal e potencial de geração de energias renováveis. Contudo, o jornal onPost entrevistou Marcelo Abelha Rodrigues, mestre e doutor pela PUC-SP,  pós-doutor pela Universidade de Lisboa e professor titular da graduação, mestrado e doutorado da Ufes.

Dr. Marcelo observa que o mercado de crédito de carbono não pode substituir esforços reais de descarbonização.

Empresas que apenas compram créditos sem reduzir suas próprias emissões podem estar prolongando a dependência de processos poluentes.

O uso de instrumentos econômicos em prol da proteção ambiental não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade, refletindo um movimento global do qual o Brasil não pode se excluir. Nesse contexto, a Lei nº 15.042, de 11 de dezembro de 2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), representa um avanço regulatório importante”, pontua Marcelo.

Abelha destaca que é essencial compreender que esses mecanismos não podem servir como subterfúgio para a inação climática.

O comércio de créditos de carbono deve complementar, e não substituir, os esforços concretos de mitigação. O dever primário de reduzir emissões deve ser efetivamente cumprido, sob pena de distorcer o conceito jurídico do princípio do poluidor-pagador, que, ao contrário do que o nome possa sugerir, não confere o direito de poluir mediante pagamento. O princípio visa internalizar os custos ambientais, impondo ao agente poluidor a responsabilidade pela compensação dos danos causados e, principalmente, pela adoção de medidas preventivas para evitar a degradação ambiental.”

Oportunidades e financiamento

A pesquisa também revelou como as empresas planejam financiar seus projetos sustentáveis:

  • 48% optam por financiamento bancário;
  • 32% utilizam capital próprio;
  • 26% pretendem investir até R$ 500 mil;
  • 11% estimam investimentos entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.

Entre as iniciativas mais desejadas, 88% das empresas demonstram interesse em aumentar a eficiência energética, 86% querem investir em energias renováveis, e 78% em gestão de resíduos e economia circular.

Um caminho sem volta para a sustentabilidade

A diretora operacional do Bandes, Gabriela Vichi, reforçou a importância de tornar a transição verde viável e competitiva.

A descarbonização é um compromisso inadiável, e a pesquisa nos dá um panorama estratégico sobre a disposição das empresas capixabas para liderar essa agenda.”

A pesquisa reforça que a transição para uma economia de baixo carbono não é apenas uma tendência, mas uma necessidade cada vez mais presente no planejamento estratégico das empresas capixabas. Com o apoio de instituições como a Findes e o Bandes, o estado se consolida como um polo de referência em inovação e sustentabilidade no Brasil.

Fontes:

Comunicação Institucional da Findes

Pesquisa Descarbonização e Eficiência Energética 2025

Entrevista com Dr. Marcelo Abelha Rodrigues

Aprovação de regras para o mercado de créditos de carbono no Brasil

Iniciativas de créditos de carbono no estado do Tocantins

Previous Article

Pesquisa Brasileira na Antártica: Fest firma mais uma parceria histórica com a Marinha do Brasil

Next Article

Liberdade de Imprensa e Liberdade de Expressão: pilares de uma nação democrática

You might be interested in …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *