Novo medicamento representa avanço na prevenção da doença, com eficácia de até 100% em alguns grupos. Especialistas apontam potencial para frear a epidemia global, mas alertam para barreiras no acesso.
Por Juba Paixão
A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) aprovou, no último dia 18 de junho, o uso do lenacapavir — agora comercializado como Yeztugo — como o primeiro medicamento injetável de longa duração para prevenção do HIV-1. A aplicação será feita duas vezes ao ano, trazendo uma nova perspectiva para as estratégias globais de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao vírus da imunodeficiência humana.
A indicação contempla adultos e adolescentes com mais de 35 quilos que estejam em risco de infecção. A inovação foi desenvolvida pela biofarmacêutica Gilead Sciences, que já comercializava o lenacapavir sob o nome Sunlenca, indicado para tratamento de HIV resistente.
Eficácia comprovada
Os resultados vieram dos estudos clínicos internacionais PURPOSE 1 e PURPOSE 2. No primeiro, conduzido com mulheres cisgênero da África Subsaariana, nenhum caso de infecção foi registrado entre as participantes que receberam o medicamento — o que representa 100% de eficácia. No segundo estudo, com homens que fazem sexo com homens e pessoas transgênero, a redução de risco foi estimada entre 96% e 99,9%.
Os dados foram celebrados por especialistas.
Yeztugo é um marco na luta contra a epidemia de HIV”, declarou Daniel O’Day, CEO da Gilead, em entrevista ao portal BioPharma Dive.
Já o médico Carlos del Rio, professor da Emory University, reforçou ao Managed Healthcare Executive a eficácia do remédio.
Pode superar barreiras ligadas ao estigma e à adesão diária a pílulas”.
Como funciona
O lenacapavir age como um inibidor de capsídeo, interferindo em múltiplas etapas do ciclo de replicação do HIV. A formulação aprovada permite aplicação subcutânea de 463,5 mg a cada seis meses. Além da proteção contínua, o método busca reduzir falhas por esquecimento ou abandono de tratamento, algo comum nos esquemas orais tradicionais de PrEP.
O regime exige, no entanto, testagens regulares de HIV antes de cada dose, pois o uso inadvertido durante uma infecção ativa pode favorecer o surgimento de resistência viral.
Apesar do avanço, o preço da terapia é apontado como um entrave à democratização do uso. Nos Estados Unidos, o custo anual gira em torno de US$ 28.000 (aproximadamente R$ 152 mil na cotação atual). Organizações de saúde e defesa dos direitos civis defendem políticas públicas de subsídio, principalmente para comunidades marginalizadas.
O desafio agora é garantir que essa inovação chegue a quem mais precisa, sem criar novas desigualdades”, afirma Mitchell Warren, diretor da organização AVAC, em entrevista ao POZ Magazine.
O panorama no Brasil
Até o fechamento desta edição, o medicamento ainda não havia sido submetido para análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A expectativa de especialistas brasileiros é de que os bons resultados dos estudos internacionais acelerem o processo de avaliação e registro no país.
O Brasil é referência mundial no acesso gratuito ao tratamento do HIV pelo SUS, mas enfrenta desafios para expandir a cobertura da PrEP, especialmente entre jovens, mulheres e populações trans.
Fontes:
Gilead Sciences;
FDA (Food and Drug Administration);
BioPharma Dive;
Contagion Live;
POZ Magazine;
Managed Healthcare Executive;
The Lancet;
Pharmacy Times;
Time Magazine.