21 de novembro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Carne Impressa em 3D: o futuro da alimentação global

A produção de carne está passando por uma verdadeira revolução tecnológica. Cientistas ao redor do mundo estão desenvolvendo métodos inovadores para criar carne a partir de células animais ou ingredientes vegetais utilizando impressoras 3D.

Por Juba Paixão

Esse avanço pode ser uma resposta aos desafios globais relacionados à produção de alimentos, sustentabilidade e bem-estar animal. Países como Israel, Estados Unidos, Espanha e Japão estão na linha de frente dessa revolução.

Israel tem se destacado como um dos líderes mundiais na produção de carne por impressão 3D. Uma startup que está ganhando destaque nesse campo é a Redefine Meat, liderada por Eshchar Ben-Shitrit, que utiliza tecnologia de impressão para criar carnes de origem vegetal com uma textura e sabor quase idênticos à carne bovina.

Em uma entrevista concedida à BBC News, Ben-Shitrit comentou que o objetivo da empresa:

Nosso objetivo é criar a carne do futuro, mudar o sistema de produção de alimentos com base em um modelo sustentável e acessível para todos”.

Outra empresa israelense, a Aleph Farms, cofundada por Didier Toubia, foi pioneira no cultivo de carne a partir de células bovinas. Em 2018, a Aleph Farms anunciou o primeiro bife cultivado em laboratório do mundo, marcando um grande avanço na indústria. Essa inovação chamou a atenção de investidores e especialistas do setor, que veem nela uma solução potencial para a sustentabilidade alimentar .

Essas empresas israelenses já estão atraindo investidores internacionais e fechando parcerias com restaurantes de luxo, em uma tentativa de ampliar o alcance global da carne impressa. Israel, conhecido por sua forte capacidade de inovação tecnológica, está liderando o caminho para uma alimentação mais sustentável.

Nos Estados Unidos, a Beyond Meat, famosa por suas carnes à base de plantas, está explorando o uso de impressão 3D para criar alternativas ainda mais realistas.

Fundada por Ethan Brown, a empresa tem sido uma das pioneiras na popularização de carne vegetal e agora busca melhorar a textura de seus produtos através da impressão 3D.

Outra gigante americana, a JUST, liderada por Josh Tetrick, está focada no desenvolvimento de carne cultivada, utilizando impressoras 3D para replicar a complexidade de cortes de carne mais sofisticados.

Na Europa, a startup espanhola NovaMeat, liderada por Giuseppe Scionti, está utilizando impressão 3D para criar bifes vegetais com estrutura semelhante à carne animal. A empresa desenvolveu uma tecnologia que permite imprimir alimentos à base de plantas em formas tridimensionais, recriando a textura fibrosa e o sabor da carne tradicional.

Em uma entrevista ao The Guardian, Scionti declarou:

Nosso objetivo é replicar a carne animal de forma sustentável, sem a necessidade de criar ou abater animais. A impressão 3D nos permite recriar as fibras complexas da carne com alta precisão e uma pegada ambiental reduzida”, disse.

Esses avanços estão mudando a forma como a carne é produzida e consumida. Nos Estados Unidos, a expectativa é que, nos próximos anos, os produtos impressos em 3D se tornem mais acessíveis aos consumidores, na medida em que a tecnologia se torne mais escalável e econômica.

O Japão, conhecido por seu foco em inovação e eficiência, também está explorando a impressão 3D de carne como uma solução para garantir a segurança alimentar do país.

A empresa Meat-Tech 3D, fundada por Yoav Reisman, está desenvolvendo soluções tecnológicas avançadas para imprimir carne cultivada com precisão, atendendo aos rigorosos padrões japoneses de qualidade.

O Japão importa a maior parte da carne que consome, e a tecnologia de impressão 3D oferece uma oportunidade para o país reduzir sua dependência externa, garantindo uma fonte de proteína autossuficiente e de alta qualidade.

A eficiência dessa tecnologia também pode permitir ao Japão otimizar seus recursos limitados de terra e água, enfrentando os desafios da segurança alimentar de forma inovadora.

Carne impressa do Brasil

No Brasil, há iniciativas emergentes que estão explorando a produção de carne por meio de bioimpressão 3D. Embora o país ainda não esteja no mesmo nível de protagonismo que Israel, Estados Unidos ou Europa, algumas empresas e instituições de pesquisa estão avançando no desenvolvimento de carne cultivada.

Uma das principais iniciativas brasileiras vem do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que vem realizando pesquisas em biotecnologia alimentar, incluindo carne cultivada. Outro exemplo é o Embrapa Agroindústria de Alimentos, que está investigando tecnologias relacionadas à produção de carne alternativa, incluindo a aplicação de bioimpressão para criar proteínas de base vegetal que imitam a carne tradicional.

Além disso, startups como a Fazenda Futuro, uma empresa pioneira em carne vegetal no Brasil, estão estudando a viabilidade de aplicar a impressão 3D em seus produtos, visando melhorar a textura e o sabor das carnes vegetais.

Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro, em uma entrevista ao Estadão, comentou:

“A impressão 3D é uma das apostas para criar uma alternativa mais realista à carne animal, especialmente em mercados que exigem produtos de alta qualidade e com baixo impacto ambiental.”

Com esses esforços, o Brasil começa a se posicionar nesse campo, e o desenvolvimento de carne impressa 3D pode, em breve, fazer parte do cenário alimentar local, impulsionado pela demanda crescente por alternativas sustentáveis.

Embora os avanços sejam impressionantes, a impressão 3D de carne ainda enfrenta desafios consideráveis. O custo de produção continua sendo um dos maiores obstáculos para a massificação da tecnologia. Empresas como a Aleph Farms e a NovaMeat ainda precisam desenvolver maneiras de escalar a produção para torná-la viável economicamente e acessível ao grande público.

Outro desafio é a aceitação dos consumidores. A carne impressa, seja ela baseada em plantas ou cultivada em laboratório, ainda gera desconfiança por parte da população. A percepção de que esses produtos são “artificiais” precisa ser desmistificada para que ganhem espaço nas prateleiras dos supermercados e nas mesas dos consumidores.

Por outro lado, as oportunidades são vastas. A impressão 3D de carne pode ser uma resposta concreta à crescente demanda global por alimentos, especialmente em um cenário de mudanças climáticas e escassez de recursos naturais.

A tecnologia oferece uma solução que reduz drasticamente o impacto ambiental da pecuária tradicional, diminuindo as emissões de gases de efeito estufa, o uso de água e o desmatamento.

Com avanços significativos em Israel, Estados Unidos, Europa e Japão, a impressão 3D de carne está cada vez mais perto de se tornar parte do cotidiano. Cientistas como Didier Toubia, Eshchar Ben-Shitrit, Josh Tetrick e Giuseppe Scionti estão liderando essa revolução tecnológica, abrindo o caminho para um futuro em que a carne poderá ser impressa com a mesma facilidade com que se imprime um documento.

À medida que a tecnologia avança e os custos diminuem, é provável que a carne impressa em 3D se torne mais acessível e amplamente aceita, modificando a forma como produzimos e consumimos alimentos. O futuro da carne, antes restrito aos campos e pastagens, agora passa por impressoras e laboratórios, em um movimento que promete transformar radicalmente a indústria alimentícia e a forma como nos alimentamos.

Fontes:

BBC News. (2023). The future of 3D-printed meat: Sustainable protein from Israel.

The Guardian. (2023). How 3D printing is changing the future of food production in Spain.

Forbes. (2023). Beyond Meat and the rise of plant-based food tech.

Japan Times. (2023). Meat-Tech 3D: Pioneering sustainable meat solutions in Japan.

Entrevistas:

Eshchar Ben-Shitrit, CEO da Redefine Meat, em entrevista à BBC News (2023).

Giuseppe Scionti, fundador da NovaMeat, em entrevista ao The Guardian (2023).

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