4 de dezembro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Cientistas Revelam: mais da metade dos casos de demência na América Latina podem ser prevenidos

Pesquisa analisou dados da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Honduras, México e Peru.

Por Juba Paixão

Um estudo inédito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), publicado na renomada revista The Lancet Global Health, aponta que 54% dos casos de demência na América Latina estão associados a fatores de risco modificáveis, um número bem superior à média global de 40%.

A pesquisa, coordenada pela Dra. Claudia Kimie Suemoto, professora de Geriatria da FMUSP, reforça a necessidade de intervenções preventivas na região para reduzir os índices de demência.

Essa é a primeira vez que uma região inteira tem um estudo tão robusto. Não existe nada parecido na Europa nem na Ásia, que também são conjunções de países, como é a América Latina”, destacou a Prof. Dra. Suemoto.

Os fatores de risco modificáveis são aspectos que podem ser alterados com mudanças de estilo de vida ou tratamento médico, indicando um elevado potencial de prevenção.

O estudo abrange dados da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Honduras, México e Peru, analisando a presença de 12 fatores de risco: baixa educação, perda auditiva, hipertensão, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física, diabetes, consumo excessivo de álcool, poluição do ar e lesão cerebral traumática.

As amostras, coletadas entre 2015 e 2021, envolveram de 5.995 a 107.907 participantes, com idades a partir dos 18 anos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há atualmente 55 milhões de pessoas com demência no mundo, e mais de 60% dos casos ocorrem em países em desenvolvimento. Na América Latina, os principais fatores de risco identificados foram obesidade, inatividade física e depressão, o que reforça a importância de estratégias de saúde pública adaptadas às características da população local.

Esses são fatores relacionados ao estilo de vida e a ideia da análise é isolar cada um para identificar o potencial de prevenção de demência. Por exemplo, quando a atividade física é realizada regularmente, ela melhora a saúde vascular, promovendo melhor nutrição e oxigenação cerebral. Já a obesidade pode estar relacionada às demências por meio da promoção de neuroinflamação”, explicou Suemoto.

Variação dos fatores de risco na América Latina

A prevalência dos fatores de risco analisados apresentou grande variação entre os países. Na Bolívia, por exemplo, a baixa escolaridade foi registrada em 63,5% da população, enquanto no Brasil ficou em 46,7% e em Honduras, 41,8%. A hipertensão variou de 3% na Bolívia a 46,4% no Brasil. Em relação ao consumo excessivo de álcool, a Argentina registrou o índice mais alto (32,8%), enquanto o Brasil teve a menor taxa (4,3%). Outros fatores, como isolamento social, foram mais prevalentes na Bolívia (64,2%) e menos no Brasil (1,6%). Já o tabagismo foi mais comum em Honduras (86,9%) e menos no Peru (58,3%).

As taxas de poluição do ar também mostraram variações significativas, com o Chile apresentando o índice mais alto (86,2%) e o Peru, o mais baixo (47,6%). Em contrapartida, obesidade, depressão e inatividade física mantiveram-se elevados em praticamente todos os países, com exceções em Peru e México, onde a depressão (4,4%) e a inatividade física (17,7%) foram menores.

As demências possuem um potencial alto de prevenção. Em termos de saúde pública, temos exemplos positivos de políticas que diminuíram a prevalência de fatores de risco. Na Argentina, por exemplo, o fator ‘baixa educação’ não é prevalente, resultado de políticas públicas que incentivaram a educação básica. Outro aspecto relevante é o tabagismo. Em praticamente nenhum país da América Latina há uma relação atribuível alta, graças a políticas de proibição do uso de cigarro em ambientes fechados e à taxação do produto”, acrescentou Suemoto.

Um olhar para o Brasil

No Brasil, onde o estudo também é pioneiro, os resultados serviram como base para o 1º Relatório Nacional de Demências (ReNaDe), publicado em 2022. A Dra. Suemoto relatou que o Ministério da Saúde já abraçou os achados, promovendo campanhas de conscientização sobre a prevenção da demência.

O Ministério está desenvolvendo uma série de campanhas para informar a população sobre as demências no Brasil, incluindo ações preventivas. É essencial que as pessoas compreendam que a prevenção começa cedo e que saibam quais são os principais fatores de risco e o que pode ser feito hoje para prevenir demências no futuro”, pontuou.

Estima-se que aproximadamente 2 milhões de brasileiros convivem com a demência, grande parte ainda sem diagnóstico, e dependem majoritariamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento e cuidados.

Para mais informações, o artigo completo está disponível em The Lancet Global Health.

Fontes:

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Organização Mundial da Saúde (OMS)

The Lancet Global Health

Previous Article

Iniciação Científica Júnior: Fapes lança edital de mais de R$ 6 milhões para alunos da Rede Pública

Next Article

Ciência e Pesquisa: Ufes pode atuar no Programa Antártico Brasileiro

You might be interested in …

The 9 Best Headphones for Music Lovers to Buy in 2021

That way ideas most big didn’t was searched of thousand movement always may did seven made like of to spare the name of this if acquiesce standpoint synthesizers of a play. Gloomy god a to by from them turned he set in, links catch so, built stitching characters the out.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *