Nos últimos anos, a medicina mundial tem passado por transformações profundas, impulsionadas por novas tecnologias, incluindo a Inteligência Artificial (IA).
Por Juba Paixão e Luciene Araujo
Essa revolução está tornando o campo da saúde cada vez mais multidisciplinar, reunindo não apenas médicos e enfermeiros, mas também engenheiros, cientistas de dados, e especialistas em tecnologia da informação. E É justamente a integração dessas áreas que está moldando o futuro da medicina, oferecendo diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados e sistemas de saúde mais eficientes.
O uso da IA na medicina já não é mais apenas uma ideia futurista. Hoje, sistemas baseados nessa tecnologia são capazes de analisar exames com uma precisão impressionante. Bem como cruzar dados complexos de pacientes e sugerir diagnósticos e tratamentos. O impacto é sentido de forma significativa em áreas como a oncologia, na qual ferramentas de IA ajudam a detectar sinais precoces de câncer em exames de imagem, e em tratamentos personalizados, ajustando terapias com base no perfil genético do paciente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de IA no setor médico tem o potencial de transformar completamente a maneira como cuidamos da saúde, melhorando o acesso aos serviços, ampliando a capacidade dos profissionais de saúde e reduzindo o tempo necessário para diagnósticos e tratamentos.
Hospitais em todo o mundo já estão adotando a IA como parte integrante do atendimento ao paciente, otimizando recursos e melhorando resultados clínicos.
Medicina Multidisciplinar: o novo normal
Essa nova era da medicina não se baseia apenas na utilização da IA, mas na colaboração de múltiplas áreas do conhecimento. Profissionais da saúde estão se aliando a pesquisadores de diversas disciplinas para criar soluções que integram tecnologia, biomedicina e ciências sociais. A ideia de que o atendimento médico precisa de uma abordagem holística está cada vez mais presente.
Na prática, essa multidisciplinaridade significa que um tratamento médico pode envolver não apenas médicos e enfermeiros, mas também engenheiros biomédicos, cientistas de dados que analisam grandes volumes de informação e até psicólogos que compreendem o comportamento dos pacientes. Essa convergência de saberes é vista como essencial para superar os desafios complexos que o setor da saúde enfrenta.
Posicionamento Acadêmico
No Brasil, instituições de ensino estão se ajustando a essa nova realidade, buscando formar profissionais capacitados para enfrentar os desafios do futuro. Um exemplo marcante vem do Espírito Santo, onde a Universidade Federal (Ufes) atualiza o curso de medicina alinhado com as tendências da saúde global.
O curso apresenta uma proposta inovadora: preparar médicos com uma visão multidisciplinar e altamente capacitados para utilizar as novas tecnologias no atendimento ao paciente. Renomado pesquisador da Ufes, o professor PhD José Geraldo Mill garante que o curso de Medicina da instituição está atento à necessidade de acompanhar o novo cenário de ensino e pesquisa
As pesquisas envolvem um grande banco de informações, devido ao grande número de variáveis ou ao linkage de bancos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Para acompanhar o novo normal na medicina, precisamos de profissionais de estatística e matemática atualizados com as novas tecnologias, que são essenciais na análise desses dados”, aponta Mill.
As mudanças na prática médica estão claramente se reletindo em um currículo médico ajustado a esses novos paradigmas. A passagem de uma época da informação e do conhecimento para uma época marcada por novas tecnologias e pela inteligência artificial. Ou seja, essas inovações e a capacidade de analisar dados de pacientes e da população deverão ser incorporados aos currículos de formação médica.
A Dra. Valéria Valim, professora do Departamento de Clínica Médica do curso de Medicina da instituição, reitera o destaque acerca dessa realidade.
No Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), nossos alunos são treinados em campo e na prática, utilizando inteligência artificial em laboratórios de simulação para atendimentos de urgência e procedimentos”, explica a Dra. Valéria.
A realidade nos centros cirúrgicos
A tecnologia é capaz de garantir precisão e velocidade notáveis nos diagnósticos médicos. Assim, auxiliar de forma significativa radiologistas e outros especialistas a identificarem anormalidades, tumores e outros marcadores críticos que poderiam passar despercebidos.
Mas há ainda a realidade das cirurgias robóticas que melhoraram significativamente os resultados dos pacientes, minimizando riscos, portanto, aumentando as taxas de sobrevivência.
O especialista em cirurgia de oncológica pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e cirurgião robótico desde 2020, Dr. Alex Bruno afirma que cada vez mais utiliza a cirurgia robótica para o tratamento de tumores do aparelho digestivo e ginecológico com resultados incríveis. Ele destaca que, em todo o mundo, mais de 12 milhões de pacientes foram operados por cirurgia robótica.
Este é um número histórico, pois desde que o primeiro Robô, o PUMA 560, utilizado em 1985 para fazer biópsias neurocirúrgicas, a tecnologia com seu ritmo de crescimento exponencial nos fez chegar à primeira plataforma de cirurgia robótica aprovada para realizar operações nos Estados Unidos em 2000, Da Vinci da Intuitive Surgical. A Cirurgia Robótica é uma técnica ultramoderna de cirurgia minimamente invasiva. Os pacientes podem se recuperar mais rapidamente, uma vez que essa forma de cirurgia causa menos agressão ao corpo”, aponta o especialista.
Vale destacar que todos os movimentos do Robô ao operar um paciente são comandados pelo cirurgião. E para se habilitar a utilização desta plataforma, o cirurgião precisa passar por um processo de capacitação que inclui no mínimo 40 horas de simulação em um console próprio e com exercícios que avaliam cada etapa do aprendizado cognitivo e de habilidades motoras. Em seguida, são realizadas mais treinamentos em sessões práticas. Após a certificação, as primeiras cirurgias são realizadas com a presença de um expert em cirurgia robótica no local, chamado de “Proctor”, que irá auxiliar a equipe médica e o cirurgião em treinamento.
O investimento financeiro e o tempo deste processo variam conforme a curva de aprendizado do cirurgião, e podem passar da casa dos R$ 100 mil.
Um investimento que vale a pena quando você vê essa maravilha da tecnologia a seu lado, atuando em prol dos seus pacientes”, garante Dr. Bruno.
O futuro é agora
E quando o assunto é futuro, podemos destacar quatro forças que estão moldando o futuro. São elas: robótica, IA, biotecnologia e nanotecnologia. Mas, é essencial destacar que a medicina está cada vez mais direcionada para um modelo que une tecnologia, conhecimento científico e humanidade.
Enquanto as ferramentas de IA continuam a se aprimorar, oferecendo diagnósticos rápidos e tratamentos mais eficazes, o fator humano se mantém essencial. Logo, a capacidade de empatia, a escuta ativa e a atenção personalizada aos pacientes permanecem indispensáveis.
Temos sempre que estar dispostos a nos reinventar, nos aprimorar. A partir do ponto que utilizamos a IA, chegamos a tratamentos cada vez mais personalizados, mais eficazes e constatamos seus resultados incríveis. destacando que completamos isso com muita humanização, amor, carinho e empatia”, enfatiza Dr. Bruno.
E essa combinação entre alta tecnologia e cuidado humano define o que a medicina do futuro será. Portanto, a partir de uma educação que valoriza a inovação tecnológica e a abordagem multidisciplinar, as instituições de ensino precisam posicionar seus alunos como protagonistas na medicina do futuro, prontos para enfrentar os desafios globais da saúde.
Fontes:
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
Instituto Nacional de Câncer (Inca)