A cegueira e a deficiência visual impactam profundamente a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Por Juba Paixão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2,2 bilhões de pessoas têm algum grau de deficiência visual, e cerca de 36 milhões são cegas.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 35 milhões de pessoas apresentam problemas de visão, com aproximadamente 600 mil casos de cegueira total. Essas estatísticas refletem um grande desafio global, especialmente à medida que o envelhecimento populacional eleva a prevalência de condições como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
Implante Prima: uma nova esperança para pacientes com degeneração macular
Um avanço revolucionário no tratamento da cegueira surgiu recentemente com o desenvolvimento do implante ocular Prima, criado pela Science Corporation, empresa fundada por Max Hodak, ex-presidente da Neuralink. Esse dispositivo restaura parcialmente a visão em pacientes com degeneração macular avançada ao converter padrões de luz em sinais elétricos que o cérebro interpreta como imagens.
Durante ensaios clínicos, os participantes conseguiram recuperar a capacidade de ler, reconhecer rostos e até jogar cartas, atividades que haviam perdido com a cegueira. Este marco inovador oferece uma alternativa para milhões de pessoas com perda de visão central, permitindo maior independência e qualidade de vida.
O que é a degeneração macular?
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença progressiva que afeta a mácula, a região central da retina responsável pela visão de detalhes e pela nitidez das imagens. Essa condição é uma das principais causas de perda de visão em pessoas acima de 60 anos. Na DMRI, as células da mácula se deterioram, prejudicando a visão central (necessária para atividades como leitura e reconhecimento facial) enquanto geralmente preservam a visão periférica.
Existem duas formas principais de DMRI:
DMRI Seca: é a forma mais comum e mais lenta, caracterizada pelo acúmulo de depósitos amarelos chamados drusas na mácula, o que leva à atrofia e perda gradual da visão central.
DMRI Úmida: menos comum, mas mais grave e de evolução rápida, ocorre quando vasos sanguíneos anormais crescem sob a retina e vazam fluidos ou sangue, danificando a mácula.
Doenças associadas à DMRI
A DMRI está frequentemente associada a outras condições oculares e sistêmicas, como:
Retinopatia diabética: também afeta a retina, principalmente em pessoas com diabetes, e pode agravar os sintomas visuais.
Glaucoma: outra condição que pode coexistir com a DMRI e leva à perda de visão periférica devido ao aumento da pressão ocular.
Catarata: em alguns casos, a DMRI pode ocorrer em conjunto com a catarata, que causa opacidade no cristalino, piorando a visão.
Outros fatores de risco para a DMRI incluem idade avançada, histórico familiar, tabagismo, hipertensão e exposição à luz solar sem proteção.
Saiba mais em: Serviços e Informações do Brasil – Relatório Mundial Sobre a Visão.
Comparação com o sistema da Neuralink e a visão de Elon Musk
A Neuralink, de Elon Musk, tem explorado tecnologias de interface cérebro-computador, visando a recuperação de funções neurológicas complexas e, no futuro, incluindo a visão. No entanto, a abordagem da Neuralink se concentra em tratamentos mais amplos para várias condições neurológicas, enquanto o Prima oferece uma solução específica para a degeneração macular.
Essa especialização permite que o Prima apresente resultados práticos e rápidos para um grupo específico de pacientes, enquanto os dispositivos da Neuralink ainda estão em fases iniciais de desenvolvimento para a visão.
Impacto e perspectivas futuras
O sucesso do Prima marca um avanço inédito nas próteses retinianas e na oftalmologia, oferecendo uma esperança concreta de recuperação parcial da visão para pessoas que até então não tinham opções de tratamento efetivo. Especialistas preveem que, com a continuidade dos estudos, essa tecnologia se tornará cada vez mais acessível, transformando o atendimento oftalmológico e a vida de milhões de pacientes com deficiência visual.
No Brasil, as principais causas de cegueira incluem a catarata, o glaucoma e a degeneração macular. A catarata, que pode ser tratada com cirurgia, representa metade dos casos de cegueira no mundo. O glaucoma, segunda maior causa de cegueira globalmente, requer diagnóstico e tratamento precoce para evitar a perda irreversível da visão. Já a DMRI, responsável por cerca de 4% dos casos de cegueira no país, é a maior causa de cegueira nos países desenvolvidos, sendo particularmente difícil de tratar.
A tecnologia de implantes oculares como o Prima está criando uma nova era no tratamento da cegueira e reforça o papel da inovação em saúde. Esses avanços trazem a esperança de que, no futuro próximo, a recuperação da visão possa ser uma realidade para milhões de pessoas. Enquanto empresas como a Neuralink visam abordagens generalistas, o Prima mostra o impacto de uma solução especializada na vida de pessoas com cegueira avançada, oferecendo um tratamento viável e transformador.
Fontes:
- Organização Mundial da Saúde. “Deficiência visual e cegueira.” Disponível em: OMS
- Portal Afya. “Cegueira e baixa visão no mundo: cenário atual.” Disponível em: AfyaServiços e Informações do Brasil
- Sociedade Brasileira de Oftalmologia. “Estatísticas sobre deficiência visual no Brasil e principais causas.” Disponível em: SBOWHO ApplicationsAfya Portal