A crescente adoção de robôs e inteligência artificial (IA) na indústria mundial tem transformado profundamente o setor produtivo.
Por Juba Paixão e Luciene Araujo
Países como Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e Coreia do Sul lideram essa revolução, integrando robôs que agora dividem espaços com humanos em fábricas, escritórios e até mesmo em serviços. Essa tendência global redefine os paradigmas de produtividade, custo e eficiência, ao mesmo tempo que apresenta desafios significativos, especialmente para o mercado de trabalho.
Empresas americanas como a Tesla utilizam sistemas de automação avançados para otimizar suas linhas de montagem, enquanto a China, maior mercado mundial de robótica industrial, implementa robôs colaborativos que operam lado a lado com humanos em indústrias como eletrônicos e automobilística. Essa interação está redefinindo o conceito de trabalho humano, com impacto direto no preço final de produtos e serviços.
No futuro, robôs dominarão quase todas as indústrias, e isso mudará profundamente a dinâmica da sociedade. Precisaremos pensar em soluções como um fundo de assistência global para lidar com o desemprego massivo,” afirmou Elon Musk, CEO da Tesla, em entrevista recente.
Musk destaca também que a alta capacidade produtiva dos robôs levará à queda de preços de produtos e serviços, mas exigirá um novo olhar sobre políticas sociais.
No Brasil, a contribuição do Espírito Santo sobre a transformação digital e a automação também são vistas como desafios e oportunidades. Durante o Meeting de Líderes Industriais 2024, realizado pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), foi lançado o Painel da Nova Indústria Brasil (NIB), que busca trazer o setor industrial para o centro das estratégias de política nacional.
A ferramenta, desenvolvida pelo Observatório da Indústria da Findes, é pioneira ao estruturar informações de maneira a conectar ações previstas com a realidade local e oportunidades existentes no Espírito Santo e no Brasil.
Painel da Nova Indústria Brasil (NIB)
O NIB foi concebido para retratar de maneira estruturada os elementos que compõem a nova política industrial brasileira. Ele organiza informações sobre as seis missões estratégicas do governo federal, que abrangem desde cadeias agroindustriais sustentáveis até a transformação digital da indústria.
As missões do NIB incluem:
1 – Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética;
2 – Complexo econômico industrial da saúde resiliente;
3 – Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis;
4 – Transformação digital da indústria;
5 – Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas;
6 – Tecnologias para a soberania e defesa nacionais.
A partir dessas diretrizes, o Brasil busca avançar na neoindustrialização, com foco na sustentabilidade, inovação e competitividade global.
Impacto e perspectivas globais
A experiência de países que adotaram robôs colaborativos para tarefas como montagem de eletrônicos e inspeção de qualidade, serve como exemplo de como a automação pode melhorar a produtividade sem eliminar completamente a força de trabalho humana.
Nos Estados Unidos, a Amazon tem implementado robôs em seus centros de distribuição para otimizar o armazenamento e reduzir os prazos de entrega.
As empresas brasileiras também estão buscando implementar robôs e IA para aumentar a sua competitividade, entre elas, estão:
Indústria de Aço: a Gerdau adota tecnologias de automação e manutenção preditiva para melhorar a produção e garantir maior segurança com o uso de robôs.
Indústria de Celulose: A Suzano utiliza IA e visão computacional para otimizar a qualidade dos produtos e reduzir custos.
Portos: portos como Santos e Paranaguá utilizam sistemas de automação para movimentação de contêineres e otimização logística, com aplicação de IA.
Petrobras: a empresa emprega IA para análise de dados com o objetivo de prever falhas, manutenção de áreas de risco e aumentar a segurança nas operações de exploração de petróleo e gás.
Embraer: a empresa já ultrapassa mais de 3 mil encomendas de carros voadores ( eVTOLs), utiliza de IA para taxiamento autônomo de aeronaves, investe em plataformas de simulação baseadas em IA para gerar cenários e validar projetos de aeronaves, otimizando os processos de design e inovação no setor aeronáutico.
Natura: implementou sistemas de IA para interação com clientes, incluindo chatbots e ferramentas de recomendação personalizada, o que melhora a experiência do consumidor e a eficiência das vendas.
Smart Factories: iniciativas como o programa Brasil Mais Produtivo promovem a digitalização de pequenas e médias empresas industriais por meio de tecnologias como sensores digitais, internet das coisas (IoT), robótica, e inteligência artificial. Este programa visa preparar o setor industrial para a transformação digital em larga escala.
Automação no Agronegócio: no contexto agrícola, sistemas baseados em IA estão sendo usados para monitoramento de lavouras e otimização de colheitas, com impacto positivo na sustentabilidade e produtividade do setor.
No entanto, os avanços tecnológicos trazem desafios sociais. A automação intensiva, aliada à IA, pode levar ao deslocamento de trabalhadores e à necessidade de requalificação em larga escala. As iniciativas brasileiras, como o NIB em pensar a indústria, os desafios e a conexão com o mercado global, podem ajudar a mitigar esses impactos, criando um ambiente de transição mais equilibrado e preparando as indústrias para competir no cenário global.
A trajetória dos países que estão na vanguarda da neoindustrialização demonstra que investimentos consistentes em tecnologia e política industrial, alinhados com os alicerces da sustentabilidade social, podem redesenhar o futuro econômico de uma nação.
Dados e estudos
Um estudo da Associação de Robótica da América (RIA) revela que o número de robôs instalados em fábricas americanas alcançou um recorde histórico em 2021, com mais de 40 mil unidades implementadas, principalmente na indústria automotiva e em centros de distribuição, como os da Amazon.
Os robôs aumentam significativamente a produtividade e permitem prazos menores de entrega.
Já a Federação Internacional de Robótica (IFR), aponta que a China é o maior mercado de robôs industriais do mundo, com uma densidade de 322 robôs por 10 mil trabalhadores em 2022. O país lidera na adoção de robôs colaborativos em indústrias de alta tecnologia, como fabricação de semicondutores e eletrônicos.
Outros dados relevantes mostram que o Japão, com uma densidade de 399 robôs por 10 mil trabalhadores, mantém sua liderança na fabricação de robôs industriais. Na Coreia do Sul, essa densidade é ainda maior, de 932 robôs por 10 mil trabalhadores, consolidando o país como líder mundial em automação, com foco na fabricação de displays e semicondutores.
O estudo da VDMA (Associação Alemã de Engenharia Mecânica) aponta que a Alemanha é o principal mercado de robótica na Europa, com ampla utilização de IA e robôs para melhorar processos na indústria automotiva, onde mantém uma liderança significativa em exportações globais.
Com o avanço da robótica e da inteligência artificial, a indústria brasileira precisa não apenas acompanhar as tendências globais, mas também adotar soluções inovadoras que aliem eficiência produtiva e responsabilidade social, garantindo sua relevância no cenário internacional.
Fontes:
Elon Musk em entrevista à CNBC.
Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
Relatórios da IFR, RIA e publicações da VDMA.