Nas profundezas do Mar Mediterrâneo, cientistas detectaram um neutrino de energia sem precedentes, abrindo novas perspectivas para a compreensão do universo.
Por Juba Paixão
Em publicação recente do The New York Times, Chicago, revela que em 13 de fevereiro de 2023, o detector ARCA, parte do projeto europeu KM3NeT, registrou um neutrino com energia de 220 petaelétron-volts (PeV), conforme relatado na revista Nature.
Este valor é cerca de 20 mil vezes superior à energia das partículas aceleradas no Grande Colisor de Hádrons (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo. A descoberta surpreendeu a comunidade científica, pois sugere a existência de fenômenos astrofísicos capazes de gerar partículas com energias além do que se conhecia.

O KM3NeT é um observatório submarino localizado a 3.500 metros de profundidade, próximo à costa da Sicília, Itália.
Equipado com módulos ópticos sensíveis, o telescópio detecta a luz Cherenkov emitida quando neutrinos interagem com a água do mar. Essas partículas, quase sem massa e que raramente interagem com a matéria, podem atravessar vastas distâncias cósmicas, trazendo informações valiosas sobre eventos extremos no universo.
A origem deste neutrino de ultra-alta energia ainda é desconhecida. Pesquisadores consideram a possibilidade de que ele tenha se originado fora da Via Láctea, talvez em blazares ou através de interações com a radiação cósmica de fundo remanescente do Big Bang. A confirmação de tais fontes exigirá a detecção de mais eventos semelhantes e análises aprofundadas.
A colaboração internacional do KM3NeT, composta por 360 cientistas de 68 instituições em 22 países, destaca que este achado inaugura uma nova era na astronomia de neutrinos. Estudar essas partículas permitirá explorar processos astrofísicos em condições extremas, oferecendo insights sobre a dinâmica de objetos como buracos negros supermassivos e núcleos galácticos ativos.
Este marco científico reforça a importância de investimentos em infraestruturas de pesquisa de ponta e na cooperação internacional para desvendar os mistérios do cosmos. À medida que o KM3NeT continua em expansão, espera-se que futuras observações aprofundem nosso entendimento sobre as origens e os mecanismos de produção desses enigmáticos mensageiros cósmicos.
Neutrinos
Neutrinos são partículas subatômicas elementares, eletricamente neutras e com massa extremamente pequena. Eles interagem de forma muito fraca com a matéria, podendo atravessar grandes distâncias no universo praticamente sem serem detectados.
Existem três tipos de neutrinos, associados aos léptons: o neutrino do elétron, o neutrino do múon e o neutrino do tau. Devido à sua natureza evasiva, estudar neutrinos é desafiador, mas eles fornecem informações valiosas sobre processos astrofísicos extremos e a evolução do cosmos.
Fontes:
The New York Times – Chicago
Instituto Nacional de Física Nuclear (INFN)
Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS)
Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN)
Instituto de Física de Altas Energias (IFAE)
Instituto de Física Corpuscular (IFIC)