O avanço da inteligência artificial (IA) tem um custo energético alto, e, ao mesmo tempo, pode se tornar uma oportunidade inédita para países com matriz limpa, como o Brasil.
Por Juba Paixão
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), os data centers consumiram cerca de 460 TWh em 2022, e esse número pode saltar para quase 1.000 TWh até 2030, puxado principalmente pela IA generativa. Isso representa mais do que o consumo anual de países como Japão ou Alemanha.
Um levantamento recente da Reuters mostra que empresas como Microsoft, Amazon e Google estão acelerando a construção de supercentros de dados, conhecidos como “hiperescaláveis”. A energia necessária para sustentar o funcionamento de servidores e sistemas de IA já preocupa governos e concessionárias nos Estados Unidos, com picos de demanda até dez vezes maiores que os normais.

No entanto, enquanto a corrida por energia movimenta trilhões e pressiona fontes fósseis em várias regiões do mundo, o Brasil aparece no radar como uma possível solução. A combinação de hidrelétricas, energia solar e eólica, que representa mais de 85% da matriz elétrica brasileira, pode transformar o país em um celeiro limpo e confiável para o processamento de IA.
Brasil: do agro à IA, com sol e vento a favor
O mundo está se perguntando como manter a IA funcionando sem colapsar as redes. O Brasil tem as respostas, porque além de ter energia limpa em abundância, é estável e possui uma legislação que está avançando para atrair investimentos”, afirma o engenheiro eletricista e professor da USP, Ricardo Correia.

Empresas globais já começam a prestar atenção. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), só nos últimos dois anos, o país viu crescer 45% na capacidade de geração solar e quase 25% na eólica.
O Nordeste, por exemplo, já exporta energia limpa para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, e está no radar de empresas de tecnologia para instalação de data centers verdes.
O governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, também criou em 2024 o Programa Nacional de Infraestrutura Digital Sustentável (PNIDS), com foco em atrair players da tecnologia e da computação em nuvem.
Energia e inteligência caminham juntas
A corrida da IA não é apenas por algoritmos, mas por energia. E quem souber equilibrar os dois terá vantagem global. O Brasil, com seu histórico de sustentabilidade e um dos maiores potenciais de energia renovável do mundo, tem agora uma nova chance de protagonismo.
Se bem aproveitada, essa revolução pode gerar empregos, inovação e crescimento econômico sem comprometer o planeta.
Fontes:
- Agência Internacional de Energia (IEA), relatório “Electricity 2024”
- Reuters, matéria “Staggering electricity demand from AI data centers spur U.S. power expansion”, publicada em 02/07/2025
- ANEEL – Boletim Estatístico 2024
- Entrevista com Ricardo Correia, engenheiro eletricista e professor da USP