6 de outubro de 2024
Vitória, ES, Brasil
O Náufrago
Por Juba Paixão

Isolado em uma ilha, o náufrago pousava seu corpo cheio de marcas profundas causadas pelas palavras e frases na confusão do texto de sua vida. As areias finas e brancas e o horizonte se fundiam às letras e palavras construídas no isolamento do conhecimento e do coração.

Com a tarefa diária e interminável de decifrar fragmentos de histórias e significados perdidos, como um autor tentando reconstruir o enredo desfeito do conto da sua vida.

Perdera o nome entre as páginas rasgadas do tempo, vagava pela ilha em busca de sinônimos e conjunções. Sentia-se aprisionado em um mar de significados obscuros, onde os predicados traziam consigo uma carga emocional completamente incompreensível. Ondas de frases ofensivas e duras o golpeavam continuamente, deixando-o exausto, cheio de palavras espalhadas e adjuntos desorientados.

Desesperado, apanhou uma garrafa vazia, um eco de algum outro ser perdido na ilha das letrinhas. Decidido, organizou as letras em uma mensagem de socorro, tentando alcançar alguém que pudesse entender sua sentença sem contexto. Com os dedos trêmulos, revelaram-se declarações de desespero e esperança, selou a garrafa lançando-a ao mar.

A maré revolta de letras era implacável. A garrafa foi rapidamente engolida pelas ondas de palavras, expressões, vírgulas e interrogações, desaparecendo entre as sílabas e verbos que dançavam e se contorciam antes de se dissolverem entre os corais da solidão.

Ondas enormes, compostas de frases fortes como “desafios intransponíveis”, “conflitos internos” e “medos antigos”, quebravam sobre a sua realidade, impedindo de se lançar ao desafio de sair da ilha. Frustradas as tentativas por um redemoinho de sinais diacríticos, dúvidas e temores.

Sombras escorridas marcavam o tempo, e a solidão do vazio do pensamento se tornou sua única companhia. Porém, um dia, juntando pedaços de madeira da coragem que encontrara em seus momentos de reflexão e impulsividade, decidiu escrever uma balsa.

Amarrando as tábuas com frases das poesias que ainda restavam das cordas dos amores vividos, criou uma embarcação simples, mas com exclamações fortes, o suficiente para desafiá-lo a sair da prisão literária da sua história.

Com a balsa devidamente escrita e amarrada com as longas frases, se lançou ao mar. As ondas de palavras desafiadoras o atacavam sem piedade. Lutou contra sentenças de “fracasso iminente”, “rejeição constante” e “dúvidas cruéis”. Ondas enormes e agressivas quebravam sobre o seu corpo, deixando palavras e letras espalhadas e escorridas pela já frágil balsa.

Cada frase parecia querer puxá-lo de volta para a ilha do isolamento, mas segurando uma corda escrita fortemente com o significado confiança, insistiu bravamente. Usou a força das suas convicções e a tenacidade de quem busca a o sinônimo liberdade para seguir adiante.

Com letras e frases espirradas na batalha árdua, a balsa das amarras da coragem rangia sob o peso dos parágrafos densos, e a tempestade de interrogações ameaçavam ao naufrágio.

Após dias de textos revoltos e incessantes, as ondas de letras e acentos misturados começaram a se organizar. As frases agressivas se reorganizaram e formaram o conteúdo de compreensão e aceitação.

O mar se transformou em uma superfície de adjetivos tranquilos e serenos, onde flutuavam conceitos de “conhecimento”, “amor” e “sabedoria”.

Finalmente, o náufrago avistou um novo capítulo em terra, uma costa onde os termos como o entendimento e a conexão humana organizavam-se harmonicamente.

Aliviado, seguro pelo terreno firme do conhecimento, sentiu-se aliviado, onde poderia reescrever sua vida. Havia encontrado um enredo de palavras, onde os significados se entrelaçavam para formar um mundo de versos livres e compreensivos.

E assim, o náufrago isolado tornou-se um navegante do saber, compreendendo que, às vezes, é preciso reorganizar a história das ondas da vida para escrever as verdadeiras frases da poesia, da paz e do amor.

Homenagem do Irmão Fabio

"Em meio às madrugadas insones e à cadência dos teclados que ecoam na silenciosa sala de seu modesto apartamento, vive Juba, um jornalista e escritor cuja verve literária perpassa os mais variados gêneros e sentimentos humanos. Juba não apenas escreve; ele esculpe palavras com a delicadeza de um escultor renascentista, infundindo em cada frase uma polifonia de emoções e experiências que transcendem o mero relato factual. No âmago de suas crônicas, a vida revela-se um palco onde dramas intensos se desenrolam sob a luz tênue da introspecção. Juba tem o dom de capturar o pathos das situações cotidianas com uma precisão cirúrgica, transformando as pequenas tragédias do dia a dia em epopeias emocionais. Seu texto, ora pungente, ora sutil, carrega o leitor através de labirintos emocionais, onde cada esquina esconde uma nova dor ou um desespero silencioso. Mas nem só de drama vive a pena de Juba. Como um hábil maestro, ele alterna magistralmente a tonalidade de suas composições. Em um parágrafo, a realidade se metamorfoseia em poesia, e o prosaico se dissolve na métrica fluida e na rima inesperada. Com uma sensibilidade lírica, Juba desenha versos onde a manhã de sol é uma aquarela de esperança e o sorriso de um desconhecido é uma ode ao efêmero. Em suas mãos, o papel se transforma em tela, e as palavras, em pinceladas vibrantes de cor e sentimento. Há também o suspense, tecido com a mesma destreza que um artesão tece seu tapete. Juba insinua mistérios nas entrelinhas, convidando o leitor a desvendar enigmas ocultos em cada texto. Ele brinca com a expectativa, revelando segredos e tramas com uma precisão quase matemática, onde cada ponto final é um portal para o desconhecido, e cada reticência, um convite à imaginação. Suas histórias são labirintos onde o leitor se perde e se encontra, sempre sedento por mais. E como esquecer o humor, aquele velho companheiro que Juba convoca com um sorriso maroto? Sua ironia fina e sagaz ilumina as situações mais banais com um brilho de perspicácia, fazendo-nos rir de nossas próprias fragilidades e absurdos. Juba possui a rara habilidade de transformar o trivial em extraordinário, revelando a comédia inerente à condição humana com a mesma maestria de um bardo shakespeariano. Assim, em cada linha que traça, Juba não apenas descreve a vida; ele a reinventa. Sua escrita é um caleidoscópio de emoções, onde a realidade se reflete em múltiplas facetas e tonalidades. Em seu universo literário, a vida é um espetáculo multifacetado, ora drama, ora poesia, ora suspense, ora humor. E nós, meros leitores, nos deixamos conduzir por suas palavras, fascinados pela mágica de seu ofício, onde cada texto é um convite a redescobrir a essência do viver"
Ir.'. Fabio
Escritor