6 de outubro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Órgãos Bioimpressos: a revolução da medicina com impressoras 3D

A medicina está vivendo uma revolução que até recentemente parecia saída da ficção científica: a bioimpressão de órgãos.

Por Juba Paixão

Usando impressoras 3D de última geração, cientistas estão desenvolvendo tecidos e, em alguns casos, órgãos inteiros a partir de células vivas. Essa tecnologia pode, em breve, transformar o cenário de transplantes e tratamentos para doenças crônicas, oferecendo soluções personalizadas e reduzindo drasticamente as listas de espera por doadores.

A bioimpressão 3D utiliza células do próprio paciente, conhecidas como células-tronco, que são manipuladas em laboratório para se transformarem em diferentes tipos de tecidos, como pele, cartilagem, e, mais recentemente, estruturas mais complexas como fígados e rins.

Essas células são “impressas” camada por camada, de maneira similar à impressão de objetos tridimensionais, mas usando “bioink”, uma substância feita de material biológico.

Pesquisadores na vanguarda

Uma das equipes mais avançadas no campo da bioimpressão está na Universidade de Wake Forest, nos Estados Unidos, sob a liderança do Dr. Anthony Atala, diretor do Wake Forest Institute for Regenerative Medicine (WFIRM). Atala e sua equipe foram pioneiros na impressão de tecidos e estruturas funcionais, incluindo pele e partes do fígado.

Estamos chegando a um ponto onde poderemos criar órgãos sob medida para cada paciente”

Em uma entrevista publicada na revista Nature em janeiro de 2024, o Dr. Atala explicou a magnitude do impacto da bioimpressão na medicina moderna:

Estamos chegando a um ponto onde poderemos criar órgãos sob medida para cada paciente, eliminando a rejeição imunológica e a dependência de doadores. A capacidade de imprimir tecidos vivos complexos como fígados e rins é um divisor de águas que poderá transformar completamente o tratamento de doenças crônicas e agudas”, explica o Dr. Atala.

O WFIRM tem trabalhado em parceria com outras instituições e hospitais nos Estados Unidos, desenvolvendo órgãos bioimpressos para ensaios clínicos, além de usar a tecnologia para criar tecidos personalizados para pacientes com queimaduras ou danos em tecidos cartilaginosos.

No Brasil, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, em colaboração com o Hospital das Clínicas, está desenvolvendo projetos inovadores na bioimpressão de pele humana para enxertos em vítimas de queimaduras.

Liderados pela Dra. Mayana Zatz, especialista em genética, os pesquisadores estão buscando usar a bioimpressão para evitar rejeição de enxertos em pacientes.

Na Europa, o Universidade de Utrecht, na Holanda, tem sido um dos centros de pesquisa mais inovadores, com o Dr. Jos Malda liderando esforços em bioimpressão de cartilagem para substituições articulares em humanos. Esse avanço pode mudar o tratamento de doenças degenerativas como a osteoartrite.

Futuro promissor

Os órgãos bioimpressos ainda não estão prontos para transplantes completos, mas os primeiros testes com tecidos e partes funcionais já estão ocorrendo. O WFIRM realizou transplantes bem-sucedidos de bexigas bioimpressas em pacientes, e novos estudos em animais estão explorando a possibilidade de criar rins e fígados funcionais. O objetivo é que esses órgãos bioimpressos possam um dia substituir a necessidade de transplantes tradicionais, eliminando o risco de rejeição e a dependência de doadores.

No Brasil, os primeiros ensaios com pele bioimpressa já foram usados em pacientes no Hospital das Clínicas. Os resultados têm sido promissores, especialmente no tratamento de queimaduras severas, onde enxertos de pele bioimpressa oferecem uma chance maior de recuperação sem as complicações comuns de rejeição.

Embora os avanços sejam animadores, os pesquisadores ainda enfrentam desafios significativos, como a criação de tecidos mais complexos que envolvem redes de vasos sanguíneos, necessárias para manter a funcionalidade de órgãos maiores como corações ou fígados.

No entanto, com o ritmo acelerado da pesquisa, muitos especialistas acreditam que nos próximos 10 a 20 anos, órgãos bioimpressos funcionais poderão ser uma realidade clínica.

A bioimpressão de órgãos com impressoras 3D é uma das inovações mais promissoras na medicina moderna. Com esforços liderados por pesquisadores como o Dr. Anthony Atala, Dra. Mayana Zatz e Dr. Jos Malda, o futuro dos transplantes de órgãos e da regeneração tecidual está prestes a mudar drasticamente.

À medida que a tecnologia avança, a esperança é que milhões de pessoas ao redor do mundo possam ser beneficiadas com órgãos bioimpressos personalizados, eliminando a dependência de doadores e transformando o tratamento de doenças graves.

Fontes:

Wake Forest Institute for Regenerative Medicine (WFIRM)

Universidade de Utrecht

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)

Hospital das Clínicas, São Paulo

Entrevista com Dr. Anthony Atala, Nature, janeiro de 2024 Entrevistas com

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