De veículos autônomos a humanoides, a tecnologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) é destaque no Brasil e no mundo.
Por Juba Paixão
O caminhão autônomo, desenvolvido pela startup Lume Robotics, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), posiciona o Brasil entre os poucos países que dominam essa tecnologia de ponta, um setor projetado para movimentar US$ 7 trilhões até 2050, de acordo com pesquisa da Strategy Analytics, consultoria especializada em tecnologia.
A inovação, fruto da parceria entre a startup, a VIX Logística e a Portocel, entrou em operação com uma rota homologada nas vias internas do terminal do Portocel, localizado em Aracruz, norte do Espírito Santo.

Rânik Guidolini, diretor executivo da Lume Robotics, destaca que o caminhão autônomo utilizado para movimentar celulose nas vias internas do Portocel representa uma grande conquista. Ele acrescenta que já há um segundo caminhão em fase de testes.
A inovação estabelece um marco histórico na tecnologia de veículos autônomos, com a primeira operação efetiva de caminhões autônomos em ambientes portuários no Hemisfério Sul. Um avanço que coloca o Brasil em destaque no mundo”, acrescenta.
A tecnologia do caminhão autônomo já havia se consolidado, em 2021, com o ART (Autonomous Robotic Truck), um caminhão de transporte autônomo voltado para a indústria. O ART circulou com sucesso pelo espaço do campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e hoje, uma de suas versões é destaque na Portocel.
Como funciona?
O caminhão autônomo é conduzido por um sistema computacional interligado às câmeras e sensores, dotado de Inteligência Artificial (IA). Conta com vários dispositivos de segurança, capazes de detectar e responder rapidamente caso identifique obstáculo em seu percurso.

Com um tempo de reação padrão de um décimo de segundo, o sistema autônomo supera a capacidade humana.
Em 12 meses de testes nas áreas internas da Portocel, o veículo percorreu quase 4.500 km, acumulando mais de 400 horas de movimentação assistida, com um condutor na cabine observando o desempenho. Os testes consideraram diferentes cenários operacionais, para avaliação dos parâmetros de segurança e eficiência do sistema, validando requisitos técnicos de segurança e de qualidade, inclusive em testes com carga.
O começo
Em entrevista ao jornal onPost, o Prof. Dr. Alberto Ferreira de Souza, sócio CTO (Chief Technology Officer) da Lume Robotics e professor emérito na área de Inteligência Artificial Generativa da Ufes, destacou que o caminhão autônomo é fruto do conhecimento científico adquirido pelos pesquisadores ex-alunos, participantes do Projeto IARA (Intelligent Autonomous Robotic Automobile), do Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Ufes, iniciado em 2009.

O projeto de veículos autônomos foi desenvolvido a partir das pesquisas para entender como o cérebro humano funciona para conseguir dirigir um carro. Logicamente, não precisamos de toda inteligência humana para esse feito, mas a pergunta é: qual inteligência é preciso para se dirigir um carro?”
As respostas às pesquisas baseadas em tecnologias avançadas, como redes neurais profundas (Deep Learning), Inteligência Artificial, visão computacional e robótica autônoma tornaram o projeto IARA uma realidade em 2017.
O primeiro veículo autônomo do Brasil, e um dos mais conhecidos no mundo, atingiu um marco na história dos carros autônomos ao realizar uma viagem do campus da Ufes, em Vitória, até a cidade de Guarapari, um percurso de 74 km passando por três municípios em tráfego normal de ruas, avenidas, rodovias, pontes, praças de pedágio, semáforos, entre outras situações de trânsito.
Cão, humanoide e eVTOL
Novidades que estão em desenvolvimento pelas startups da Ufes e o jornal onPost foi conferir:
Argos: uma analogia ao fiel cão de Ulisses. O projeto tem o objetivo de dar autonomia ao Argos para que ele faça a inspeção em áreas perigosas da ArcelorMittal e possa identificar problemas, aumentando a segurança na operação da indústria;
Prometeus: um humanoide, com tecnologia da Ufes, que terá a função de cumprir várias tarefas do cotidiano.
Prometeus é uma referência ao semideus que roubou o fogo do Olimpo para entregar aos humanos e assim libertá-los do medo. Estamos trabalhando para que o nosso humanoide, assim como alguns países do mundo, possa ter autonomia para fazer várias funções do cotidiano, como fazer um café e te servir uma xícara de café, por exemplo”, explica o Prof. Dr. Alberto.
eVTOL Embraer (electric Vertical Take-Off and Landing, que em português traduz-se para decolagem e pouso vertical elétrico): com mais de 3 mil unidades vendidas pela Embraer, os famosos carros voadores também são desenvolvidos com a tecnologia capixaba. As aeronaves, que têm a opção de pilotos humanos, terão a opção do piloto autônomo, o que dispensa o piloto reserva. Essa parceria com a Embraer é desenvolvida pela Motora, outra startup que nasceu dentro da Ufes.

Vale lembrar que em 2019 a parceria da Ufes com a Embraer já havia realizado o primeiro taxiamento autônomo do mundo de uma aeronave a jato de passageiros. Hoje, nos colocamos ao lado de poucos países que desenvolvem o cérebro do eVTOL. Isso mostra a força da capacidade de desenvolvimento tecnológico do capixaba”, destaca.
Em breve, outras novidades entrarão no mercado graças aos recursos na ordem de R$ 6 milhões, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre elas, o caminhão autônomo sem cabine, em parceria com a Suzano, e a empilhadeira autônoma, além de várias outras máquinas autônomas.
Além das startups Lume e Motora, a área de Inteligência Artificial Generativa da Ufes tem sido berço de diversas outras iniciativas empreendedoras. Destacam-se, por exemplo, a Aumo, que desenvolveu a plataforma de inteligência artificial Aumo GPT, e a IS Vision, que criou uma tecnologia inovadora para videomonitoramento.
Nossa busca é utilizar a computação de alto desempenho para implementar modelos de cérebros artificiais que possam executar funções complexas para atender aos mais variados segmentos do mercado, principalmente a indústria”, finaliza Alberto.
Fontes:
Comunicação Institucional da Portocel;
Entrevista com o Prof. Dr. Alberto Ferreira de Souza;
Lume Robotics;
Motora;
Área de Inteligência Artificial Generativa da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).