9 de março de 2025
Vitória, ES, Brasil

Ascensão Feminina no Setor de Tecnologia: Act!on faz um panorama do mercado

A participação das mulheres no setor de tecnologia no Brasil e no Espírito Santo tem registrado avanços significativos nos últimos anos.

Por Juba Paixão

Para homenagear as mulheres, a Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on) faz um balanço de como caminha o mercado capixaba com a presença feminina. Apesar da participação das mulheres ter melhorado, é necessário que estratégias, que vão desde a mudança de cultura até a capacitação e o empoderamento feminino, continuem a fomentar a inserção das mulheres nas empresas de tecnologia.

Iniciativas educacionais e programas de inclusão têm sido fundamentais para promover a equidade de gênero e capacitar mulheres para atuarem em áreas historicamente dominadas por homens.

Laysa Christiane de Souza Andrade, administradora financeira da AllWere, empresa que atua com sistemas para compra, venda e armazenagem de café, cacau e pimenta, destaca a grande capacidade das mulheres em implantação, coordenação e relacionamento interpessoal dentro das empresas.

Precisamos incentivar as mulheres a ocuparem cargos de decisão nas corporações. Elas precisam acreditar no próprio potencial e na qualidade da sua entrega. A mulher já se divide entre família e trabalho, enfrentando uma agenda empresarial e familiar intensa, mas consegue desempenhar suas funções com competência e dedicação”, afirma Laysa Christiane.

Outra questão apontada por Laysa é que a baixa presença feminina no setor não se deve apenas ao machismo, mas também à pouca procura das próprias mulheres por essas carreiras. Além disso, há o desafio de reter a Geração Z (nascida entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010) no setor.

Essa geração é reconhecida por sua habilidade natural com a tecnologia, mentalidade empreendedora e desejo por propósito no trabalho. São mentes leves, com facilidade para absorver conhecimento. O desafio é reter as mulheres dessa geração, pois isso contribuiria para as empresas e aumentaria a participação feminina no setor”, observa Laysa.

No Brasil, a presença feminina no setor tem aumentado, mas desafios persistem. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam um crescimento de 60% na participação das mulheres no setor tecnológico nos últimos cinco anos.

Apesar desse progresso, as mulheres ainda representam apenas 12,3% dos profissionais da área, enquanto os homens somam 83,3% do mercado.

É preciso destacar que, na área de tecnologia, a maior procura ainda parte dos homens, não das mulheres. No cenário nacional e estadual, observamos que as mulheres ocupam majoritariamente cargos administrativos, enquanto os homens dominam as áreas de programação e suporte. Para mudar esse quadro, precisamos de ações estratégicas que capacitem e incentivem as mulheres a ingressarem nesses setores e ocuparem cargos de decisão”, aponta Patrícia Pereira Braga da Costa, sócia da Wage Informática”

A empresa, que atua há 32 anos no setor, oferece soluções de gestão para o comércio varejista e industrial, abrangendo administração, automação e operação.

Na Wage, somos uma empresa familiar. Meu sócio, Luciano, que também é meu marido, cuida da programação, enquanto eu administro as áreas financeira e administrativa. O detalhe é que todas as decisões são discutidas e tomadas em conjunto. É fundamental que ocupemos posições de liderança dentro das empresas. Somos capazes e comprometidas com resultados”, enfatiza Patrícia.

No Espírito Santo, iniciativas como o “Reprograme-se” ganharam destaque. A ação, promovida pela Act!on em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), ofertou cursos de capacitação em tecnologia para jovens e adultos, incluindo mulheres, garantindo as habilidades necessárias para ingressar e prosperar no mercado tecnológico.

Além disso, o programa “Jovem Programadora”, desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Espírito Santo (Senac-ES) em parceria com a Act!on, visa qualificar mulheres em situação de vulnerabilidade social na área de programação.

Destinado a mulheres entre 16 e 29 anos, o programa formou 79 jovens em 2023 e ampliou a oferta para mais de 243 vagas em 2024. Neste ano, o Jovem Programadora oferece mais 119 vagas gratuitas para mulheres interessadas em ingressar no mercado de tecnologia, promovendo a inclusão feminina em um setor predominantemente masculino.

Outro exemplo de iniciativa voltada à capacitação feminina no setor de tecnologia é o Senai Tech pras Manas, desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Senai. Em 2023, cem mulheres deram um passo importante para transformar suas vidas e buscar oportunidades em um mercado que só cresce no mundo. Elas iniciaram o curso de Programação Web por meio do programa, que aconteceu em quatro unidades do Senai ES: Vitória, Serra, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares.

Além da Act!on, o programa recebeu o apoio da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).

Desafios persistentes

Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam desafios para ocupar cargos de decisão no setor. Estudos do IBGE indicam que apenas 22% dos alunos de cursos de ciência da computação são mulheres. No mercado de trabalho, elas representam apenas 17% dos programadores, segundo estudo do Serasa Experian em parceria com a ONU Mulheres.

Dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) mostram que, em cinco anos, serão criados quase 800 mil novos postos no país. No entanto, o Brasil forma pouco mais de 53 mil profissionais de tecnologia por ano, o que deve resultar em um déficit de 532 mil pessoas na área.

Esses números evidenciam a necessidade de políticas contínuas de incentivo e programas de formação para equilibrar a representatividade de gênero no setor.

Caminhos para a inclusão

A análise feita indica que, para promover uma maior participação feminina em cargos de decisão, é fundamental que as empresas adotem políticas inclusivas, como programas de mentoria, treinamentos voltados para liderança feminina e a criação de ambientes de trabalho que valorizem a diversidade.

Iniciativas educacionais aliadas a mudanças culturais nas corporações desempenham um papel crucial ao fornecer às mulheres as habilidades necessárias e o empoderamento para ingressar e prosperar no setor de tecnologia.

Ana Karolina Gonçalves, administradora e especialista em tecnologia para negócios, ocupa uma posição estratégica dentro da Dersalis Brasil Inovação em Saúde.

Desde o início da empresa, Ana desenvolveu a estrutura financeira, além de ser a responsável pela captação de investimentos do mercado financeiro na Dersalis.

Além de estar no conselho como a única mulher, desenvolvi todos os nossos projetos de captação de investimento. Vale lembrar o da Shell, que já investiu R$ 10 milhões na Dersalis. Não foi uma trajetória fácil, pois a mulher, como aconteceu comigo, sofre várias interrupções durante os processos. Para conseguir o meu espaço, as estratégias que desenvolvi foram acontecendo, e passei a ter mais voz de decisão na empresa”, destaca Ana.

A Dersalis atua no mercado de segurança da saúde por meio da biotecnologia, utilizando Inteligência Artificial (IA). Entre seus clientes estão a Samarco, a Shell, a Usiminas, entre outras corporações.

Hoje, sou uma mulher que ocupa um lugar de tomadora de decisão. Nossa solução tecnológica é direcionada para o mercado de risco humano. O nosso dispositivo faz o acompanhamento da pessoa que está exercendo uma função perigosa, como motoristas de cargas tóxicas e inflamáveis, operadores de equipamentos pesados e todas as funções em que a fadiga humana, a desatenção ou o cansaço podem colocar a vida do trabalhador e de outros em risco. É uma responsabilidade muito grande”, explica.

Ana Karolina destaca que projetos para capacitar as mulheres nas mais variadas funções de tecnologia são importantes, mas a mudança de cultura é o que realmente faz a diferença.

Quando mudamos o público nas posições estratégicas das empresas, abrimos um caminho importante. As corporações precisam utilizar a organização e a capacidade das mulheres não só no operacional, mas também fomentar o desenvolvimento delas para que galguem postos estratégicos. É preciso acabar com o machismo e mudar a cultura empresarial. Isso faz com que elas comecem por escala até se empoderarem nos cargos de tomada de decisão”, finaliza.

Investir na inclusão feminina não é apenas uma questão de justiça social, mas também um fator estratégico para o crescimento sustentável do setor. Com mais mulheres atuando na tecnologia, o mercado se torna mais inovador, diverso e eficiente.

Esse é um investimento para o futuro, e a expectativa é que, nos próximos anos, a participação feminina no setor cresça significativamente. Assim, o Dia Internacional das Mulheres será celebrado com conquistas ainda maiores, consolidando a ascensão das mulheres nas corporações de tecnologia.

Fontes:

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Espírito Santo (Senac-ES):

Comunicação institucional da Associação Capixaba de Tecnologia (Action):

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Serasa Experian e ONU Mulheres

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