6 de outubro de 2024
Vitória, ES, Brasil

Pesquisa e Inovação: oito projetos da Rede Inova Café finalizam estudos sobre uso do herbicida glifosato no café capixaba

Os resultados alcançados pelos projetos foram apresentados no workshop promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

Pesquisas aplicadas sobre o uso de herbicidas em cafés capixabas para expansão das exportações estão sendo realizadas há três anos no Espírito Santo, com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). O investimento, que é de mais de R$ 2,5 milhões provenientes do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia/Mobilização Capixaba pela Inovação (Funcitec/MCI), faz parte do Projeto Rede Inova Café.

Ao todo, oito projetos estão em fase final de estudo e seus coordenadores foram convidados pela Fapes para apresentarem os resultados alcançados e suas expectativas no “Workshop On-line:

Apresentação dos Projetos Apoiados pela MCI na Rede Inova Café”, que aconteceu na última sexta-feira (09).

Considerando que esse workshop aborda os resultados do fomento apoiado pelo MCI a um conjunto de projetos de pesquisa aplicada, destaco que a inovação é multifatorial, depende de um conjunto de ações que não envolve somente apoio a pessoas jurídicas, mas também a pesquisadores que possam gerar conhecimento maduro para ser aplicado em parceria com os empreendedores”, ressaltou o diretor-geral da Fapes, Rodrigo Varejão.

Precisamos trabalhar tanto a geração do conhecimento, quanto a sua aplicação. E é isso que estamos fazendo com a Rede Inova Café.

Vamos neste workshop mostrar a relevância das pesquisas realizadas, os resultados até o momento dos projetos apoiados e buscar também, obviamente, explorar aqueles casos com potencial de negócio, devido ao grau de maturidade alcançado”, pontuou Varejão.


Ele também disse que o maior objetivo da Rede Inova Café e do workshop é trazer para o Espírito Santo um ambiente que favoreça o desenvolvimento de novos negócios.

Que esse ambiente de novos negócios aconteça no setor agropecuário, que está diretamente conectado à economia do Estado. Estou muito feliz por termos chegado a esse momento. Espero que todos que participam possam confraternizar conosco e celebrar junto aos pesquisadores o impacto e os resultados graças ao fomento realizado”, completou o diretor geral da Fapes.


Todas as pesquisas estudaram soluções para o uso da substância química glifosato que atua como herbicida, ou seja, pesticida de ampla ação que age no controle de plantas daninhas e tem capacidade de eliminar diversos tipos de plantas.

Para o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) e membro do Comitê Diretivo da Mobilização Capixaba pela Inovação (MCI), André Romero, os estudos desenvolvidos pela Rede Inova Café são muito importantes devido à substância estudada e seus impactos.

O glifosato é um herbicida que é de amplo espectro, é um organo fosforado, um material cancerígeno muito usado para a eliminação de ervas daninhas da agricultura. Isso porque ele bloqueia um sistema enzimático que faz parte da síntese de aminoácido para o desenvolvimento de plantas. Só que é um herbicida que tem causado problemas na agricultura, sobretudo no desenvolvimento do café”, frisou André Romero.

Temos vários relatos de alterações morfológicas nas plantas e no ciclo do desenvolvimento das plantas

Os projetos da Rede Inova Café mostraram uma evolução de descobertas muito interessantes de ordem genômica, de ordem de identificação e de ordem também de subprodutos que acabam sendo gerados pelo próprio glifosato. São questões de contaminação do próprio café”, explicou Romero.


O membro do Comitê Diretivo da MCI também comentou sobre dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), no que se refere ao consumo do café no Brasil. “Os dados da ABIC de 2023 de consumo interno mostram que consumimos café torrado e moído na faixa de 5,1 quilos por ano em per capita. Falando em grão cru, o aumento é maior ainda! Foram 6,4 quilos. Então, consumimos muito café e esse café, alguns deles, está contaminado devido ao uso inadequado de herbicidas”, disse o professor.

Então, esse tipo de ação do Governo do Estado, apoiado pela Fapes, é muito importante. O Brasil é o maior exportador de café do mundo e o Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do País. Parabenizo a Fapes pelo evento e pelo financiamento dos projetos que trouxeram dados enriquecedores sobre o processo de diminuição do uso do glifosato, sobre a utilização correta dele e, enquanto não for possível a sua eliminação, de desmistificar os problemas que, ora as pessoas acham que não têm, ora que têm. Então, só temos que parabenizar o evento que foi realizado”, acrescentou Romero.


Conheças alguns projetos:

Um dos projetos apresentados foi o intitulado “Qualidade da bebida de genótipos de Coffea Canephora e Coffea arábica cultivados sob diferentes estratégias de manejo do glifosato”, coordenado pela professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de Alegre, Vanessa Moreira Osorio.


Participei da primeira reunião que resultou na Rede Inova Café e que trouxe a problemática do índice de glifosato no café produzido no Estado para a exportação. Para a União Europeia, o limite residual é 10 vezes menor do que é permitido aqui no Brasil e essa foi a motivação da Rede Inova Café, que eu considero muito importante”, destacou Vanessa Moreira Osorio.


A pesquisadora explicou como foi feita a pesquisa coordenada por ela e a que resultado chegou:

A partir das 189 amostras coletadas em fazendas de experimentação em Marilândia, Castelo e Venda Nova do Imigrante de 2021 a 2024 de café conilon e arábica, concluímos que a aplicação de glifosato mais próximo à colheita tem interferido mais na quantidade da substância no produto final, que é o café. E esse teor maior extrapola o limite aceito pela União Europeia para a compra do café. Vários fatores podem interferir nesse teor, desde a deriva da planta e da poda. Então, estamos estudando tudo isso em parceria, discutindo em grupo para alcançar uma conclusão e chegar numa quantidade melhor dessa quantidade de glifosato”, ressaltou. 


Outro projeto desenvolvido foi o “Bioprospecção e biotecnologia aplicada ao uso de microrganismos degradadores do herbicida Glifosato em lavouras de Café́ Conilon e Arábica do Estado do Espírito Santo”, coordenado pelo professor da Universidade de Vila Velha (UVV) Alessandro Coutinho Ramos. “Um dos pontos que motivaram a nossa pesquisa foi a questão da segurança alimentar e o futuro da agricultura. Quando falamos de glifosato, estamos falando também de meio ambiente. Está tudo integrado: a saúde do meio ambiente, do homem e do animal, e tudo isso resulta na saúde do ecossistema e do planeta”, afirmou o pesquisador.

Ramos também apresentou números relacionados ao uso de fertilizantes químicos no Brasil e destacou o Plano Nacional para os Biofertilizantes. De acordo com a apresentação dele, 67% foi o crescimento do mercado de bioinsumos no Brasil em 2021/2022, o que representa em vendas totais R$ 2,9 bilhões. Ele destacou ainda que o projeto foi realizado para atender a quatro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organizações das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, mais de 80% dos agricultores já ouviram falar de biofertilizantes, mas nunca aplicaram em suas plantações. Nos Estados Unidos, esse valor é de 5% e, na China, cerca de 10%. Então, no Brasil essa é uma tecnologia que ainda está dentro das academias, das universidades e precisar sair, ser expandida e popularizada”, disse Ramos.


O professor apresentou ainda alguns resultados do projeto:

Em 26 de setembro, vamos lançar o livro ‘Solo, Pessoas e Planeta’ no Startup Investment, em parceria com a rede europeia Solidarity, com a Universidade de Lisboa, da Fapes, da MCI, da UVV, e, com a professora Cristina Cruz, também o livro em inglês “Soil Ecology and Ecosystem Service”. Além disso, lançamos no decorrer do projeto e-books para os agricultores sobre biotecnologia de fungos micorrízicos arbusculares no cafeeiro, microorganismos benéficos na agricultura moderna, biodegradação de glifosato pela microbiota do solo, e perspectivas, desafios e alternativas na agricultura moderna para o herbicida glifosato”, complementou.

Mas o principal produto gerado foi a criação da startup SymbioTech, por meio do Edital Centelha II da Fapes, em que a CEO é minha aluna que faz parte da equipe deste projeto, Amanda Bertolazi, que atua para potencializar o agronegócio brasileiro, por meio do desenvolvimento de uma nova classe de fertilizantes biológicos para uma agricultura orgânica, inovadora e sustentável”, ressaltou Ramos.


Outros projetos estudados pela Rede Inova Café:

  • Projeto: “Influência do glifosato na composição química e na qualidade de cafés conilon e arábica”

          Instituição executora: UVV

          Pesquisador Coordenador: Rodrigo Scherer

  • Projeto: “Influência do glifosato na expressão de genes envolvidos em rotas relacionadas com a produção e composição química dos grãos de genótipos de cafeeiro”.

           Instituição executora: UFES – Alegre

           Pesquisador Coordenador: Taís Cristina Bastos Soares

  • Projeto: “Qualidade da bebida de genótipos de Coffea Canephora e Coffea arábica cultivados sob diferentes estratégias de manejo do glifosato”

           Instituição executora: UFES – Alegre

           Pesquisador Coordenador: Vanessa Moreira Osorio

  • Projeto: “Capacitação, treinamento, transferência de tecnologia e inovação para o setor produtivo da cadeia do café conilon capixaba quanto ao uso de herbicidas nas lavouras, visando a expansão das exportações”

          Instituição executora: Incaper

          Pesquisador Coordenador: Sheila Cristina Prucoli Posse

  • Projeto: “Bioprospecção e biotecnologia aplicada ao uso de microrganismos degradadores do herbicida Glifosato em lavouras de Café Conilon e Arábica do estado do Espírito Santo”

          Instituição executora: UVV

          Pesquisador Coordenador: Alessandro Coutinho Ramos

  • Projeto: Identificação, caracterização e manejo de plantas daninhas quanto a resistência a herbicida em lavouras de café no Espírito Santo

          Instituição executora: UFES – Alegre 

          Pesquisador Coordenador: Leandro Pin Dalvi

  • Projeto:” Épocas de aplicação de herbicidas e princípios ativos no controle de plantas daninhas em cafeeiros”

          Instituição executora: Incaper – Colatina

          Pesquisador Coordenador: Abraão Carlos Verdin Filho

  • Projeto: “Tecnologia de Aplicação do herbicida glifosato no controle de plantas daninhas na cultura do café”

           Instituição executora: UFES – São Mateus 

           Pesquisador Coordenador: Edney Leandro da Vitória

Fonte: Comunicação Institucional da Fapes

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